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Digo eu

Digo eu

Só mesmo a mãe

 

 

 

 


Preocupações de mãe, só quem é mãe as sabe... Sempre fui vigilante e preocupada e é assim que tenciono ser até ao fim dos meus dias ou, quem sabe para além disso. 
Desde que os filhos nascem que as mães se tornam no anjo da guarda mais desassossegado de sempre. Dormem com um olho aberto e outro fechado sem nunca mais entrar num sono profundo, atentas a todos os sons que perturbam o silêncio da noite.
Nunca amarrei as minhas filhas à cama, sempre as deixei sair, mas também sempre quis saber quem eram as companhias, com quem iam e voltavam, se levavam casaco, se tinham dinheiro e para onde iriam andar. Nunca achei que proibir fosse mais seguro, mas sempre as alertei dos perigos que sabia que havia por ai. Afinal proibir para quê?  A mim nunca isso me impediu de sair. Saltava pelas janelas, fugia pelos telhados, voltando de madrugada sem ninguém dar por isso. Isso sim era um perigo! As ameaças são tantas ou tão poucas que nunca é demais prevenir… 
Velhinhas disfarçadas de pedintes, crianças que parecem perdidas, malandros que pedem informações através das janelas de carros, gente aparentemente simpática que oferece de mão beijada pastilhas para engolir e outras coisas assim - "Não se iludam com as aparências, nem se deixem enganar por pedidos de ajuda aparentemente desesperados. Quando se encontrarem numa situação desse género, chamem a polícia! Não falem com estranhos, não apanhem boleias de gente que mal conhecem nem se metam no meio de confusões. À mínima coisa, pirem-se dali"!  Não se esqueçam de ligar quando chegarem e de avisar quando entrarem em casa". A lista dos riscos é interminável e os avisos nunca são demais, se bem que eles gostam de fazer orelhas moucas. Gostava de saber de há algum filho que segue à risca todas as regras impostas pelos pais, ou se as regras só agravam ainda mais a vontade de desobedecer. 
A mesma conversa repetia-se sempre que saiam, sempre que resolviam ir de férias para longe de casa, sempre que havia alguma situação fora do comum. 
Ainda assim, as mães nunca sossegam. Há sempre uma dor de cabeça, um pressentimento, o tal sexto sentido que nos deixa num alerta permanente e desgastante. As mães envelhecem por fora e por dentro, tentando manter-se jovens para acompanhar tudo o que os filhos fazem, inclusive estarem disponíveis,  serem prestáveis, protectoras, conselheiras, amigas, enfermeiras, motoristas, confidentes, psicólogas, bancárias e sei lá que mais. As mães são o tudo em um, um saco sem fundo onde os filhos despejam as asneiras, as angustias, os pedidos, as súplicas, as ameaças, as frustrações, as mentiras, as desculpas, as más disposições, com um breve toque de carinho à mistura. 
Geralmente a meiguice espontânea dura até à pré-adolescência. Depois disso entra-se num virote de arrogância que é preciso aturar, ter paciência, fingir que nada disso nos atinge como um raio. O revirar de olhos e os suspiros, os silêncios às perguntas, os diálogos puxados a ferro doem que se farta. Deixamos de ser rainhas para passarmos a ser a bruxa que não se cala, que grita e se repete. 

Além disso, ainda temos que ouvir que o nosso cansaço não se justifica, já que não fazemos nada. Para os filhos, as mães que não trabalham fora de casa, têm uma rica vida. Tudo o que aparece feito, deve ser por acaso. Casa, comida e roupa lavada, tudo sempre impecável é nada mais nada menos que um dado adquirido que ninguém quer saber donde vem, quanto tempo leva nem o que custa. 

Passados todos esses períodos de implicância, vem finalmente a tolerância, o elogio e a graça que até fazem questão de demonstrar.