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Digo eu

Digo eu

Há dias e dias

 

 

 

 

Eu sei que há dia e dias. Dias de sim, dias de não. Os dias de sim são fantásticos. Sinto o mundo do meu  lado, estou ao lado de todos, mais receptiva, mais bem disposta. Estou então pronta para tudo o que der e vier, com uma enorme capacidade de dar, agradecida por receber. Dar tudo de mim assim sem mais nem porquê e tudo o que recebo, agradeço.  Acordo de manhã e desde cedo, sinto que o dia vai ser de acordo com o estado em que estou. Não é do sol, do calor, da chuva, do frio  ou do vento. Tudo se passa cá dentro e grande parte das vezes, nem sequer sei o porquê do dia ser sim ou do dia ser não.
O dia não, não é necessariamente um dia de merda mas é um dia confuso dentro da minha cabeça. Fico talvez insegura. Não é por ter programas ou não ter, por ter companhia ou por não ter. É um estado de espírito só. 
E mesmo assim eu vou rindo, dando umas boas gargalhadas e até sou conhecida por isso. Por rir de mim própria, dos disparates que me saem pela boca fora, deixando a confusão sair para ser capaz de respirar. Às vezes ajuda. Outras, a confusão volta só para me dar falta de ar. 
Parece que as vontades se trocam. Eu que gosto tanto de praia, nem me apetece lá pôr os pés ou sequer pensar nela. Em compensação,  dá-me umas ganas de avançar para o cabeleireiro, onde só vou quando estou no limite da indecência, para me sentar numa cadeira e até rapar o cabelo se for preciso. É uma urgência estranha de mudar radicalmente de visual, mesmo que depois me arrependa.  
Enquanto que nos dias sim a minha casa me abraça, nos dias não ela também me sufoca. Saio então para a rua sem saber onde vou.