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Digo eu

Digo eu

Heróis do Mar Nobre Povo

 

 

 

 

Já fomos grandes um dia. Já sentimos na pele o respeito pelo que conquistámos e até a inveja doutros povos maiores que tinham outras possibilidades. Sempre nos aventurámos e nunca tivemos medo de nos fazermos ao mar, apesar das tempestades e dos monstros do cabo.

Nos dias serenos víamos ao longe sereias, baleias e golfinhos, o reflexo do sol que batia na água e acreditávamos. Grandes poetas contaram a nossa história em versos de arrepiar,  que nos deixaram orgulhosos e nos deram coragem para nunca parar. 

Tivemos o mundo aos nossos pés, fizemos amizades e levamos a nossa língua até ao fim do mundo que ainda hoje se fala.

A nossa língua não é de trapos! Tem tantas palavras bonitas com os mais diversos significados, que nos permite dizer a mesma coisas de várias maneiras diferentes, esse tão belo prazer de poder jogar com o vocabulário. 

Estamos agora desacreditados. Encolhemos os ombros e conformamo-nos assim? Temos o país mais fabuloso do mundo mas ficámos preguiçosos ao baixarmos os braços. Os políticos estragaram-no, deram cabo da economia e de tudo o que amealhámos. Deixámos de sonhar para andarmos cabisbaixos, trabalhamos para sobreviver sem nos deixarem brilhar.

Já há poucos que acreditam que este lugar poderá um dia ser levantado, com tantos problemas delicados que há para resolver. Temos um país problemático apesar da beleza natural, do povo simpático,  desta juventude brilhante que por aqui anda, com pouca esperança no futuro pelo cenário escangalhado. 

Não posso deixar de pensar nas minhas filhas… Nos filhos de tantos outros que partiram, na esperança de encontrar lá fora o que não encontram cá dentro - Trabalho, justiça, solidariedade e empreendimento, com salários merecidos.

Vivemos numa democracia que se encheu de bandidos e de canalhas. A inteligência anda perdida na ausência do bom senso, do respeito e da fé. Trocou-se a confiança pela descrença, o orgulho pelo pessimismo, a convicção pela suspeita sistemática. 

Onde andam os heróis do mar e a valentia do povo, os sonhos e a voz dos poetas?

Parece que andamos todos adormecidos à espera dum beijo encantado, que nos dê coragem para sermos úteis e eficazes. É preciso muito trabalho, muita luta e uma enorme determinação para acabar com esta bandalheira instalada. 

Temos tudo para ser grandes, excepto a valentia doutros tempos que já lá vão. Que volte o orgulho por tudo o que fomos e que devemos voltar a ser. Orgulho de continuarmos a ser Portugal, de cabeça levantada e não de olhos no chão. 

Só mesmo a mãe

 

 

 

 


Preocupações de mãe, só quem é mãe as sabe... Sempre fui vigilante e preocupada e é assim que tenciono ser até ao fim dos meus dias ou, quem sabe para além disso. 
Desde que os filhos nascem que as mães se tornam no anjo da guarda mais desassossegado de sempre. Dormem com um olho aberto e outro fechado sem nunca mais entrar num sono profundo, atentas a todos os sons que perturbam o silêncio da noite.
Nunca amarrei as minhas filhas à cama, sempre as deixei sair, mas também sempre quis saber quem eram as companhias, com quem iam e voltavam, se levavam casaco, se tinham dinheiro e para onde iriam andar. Nunca achei que proibir fosse mais seguro, mas sempre as alertei dos perigos que sabia que havia por ai. Afinal proibir para quê?  A mim nunca isso me impediu de sair. Saltava pelas janelas, fugia pelos telhados, voltando de madrugada sem ninguém dar por isso. Isso sim era um perigo! As ameaças são tantas ou tão poucas que nunca é demais prevenir… 
Velhinhas disfarçadas de pedintes, crianças que parecem perdidas, malandros que pedem informações através das janelas de carros, gente aparentemente simpática que oferece de mão beijada pastilhas para engolir e outras coisas assim - "Não se iludam com as aparências, nem se deixem enganar por pedidos de ajuda aparentemente desesperados. Quando se encontrarem numa situação desse género, chamem a polícia! Não falem com estranhos, não apanhem boleias de gente que mal conhecem nem se metam no meio de confusões. À mínima coisa, pirem-se dali"!  Não se esqueçam de ligar quando chegarem e de avisar quando entrarem em casa". A lista dos riscos é interminável e os avisos nunca são demais, se bem que eles gostam de fazer orelhas moucas. Gostava de saber de há algum filho que segue à risca todas as regras impostas pelos pais, ou se as regras só agravam ainda mais a vontade de desobedecer. 
A mesma conversa repetia-se sempre que saiam, sempre que resolviam ir de férias para longe de casa, sempre que havia alguma situação fora do comum. 
Ainda assim, as mães nunca sossegam. Há sempre uma dor de cabeça, um pressentimento, o tal sexto sentido que nos deixa num alerta permanente e desgastante. As mães envelhecem por fora e por dentro, tentando manter-se jovens para acompanhar tudo o que os filhos fazem, inclusive estarem disponíveis,  serem prestáveis, protectoras, conselheiras, amigas, enfermeiras, motoristas, confidentes, psicólogas, bancárias e sei lá que mais. As mães são o tudo em um, um saco sem fundo onde os filhos despejam as asneiras, as angustias, os pedidos, as súplicas, as ameaças, as frustrações, as mentiras, as desculpas, as más disposições, com um breve toque de carinho à mistura. 
Geralmente a meiguice espontânea dura até à pré-adolescência. Depois disso entra-se num virote de arrogância que é preciso aturar, ter paciência, fingir que nada disso nos atinge como um raio. O revirar de olhos e os suspiros, os silêncios às perguntas, os diálogos puxados a ferro doem que se farta. Deixamos de ser rainhas para passarmos a ser a bruxa que não se cala, que grita e se repete. 

Além disso, ainda temos que ouvir que o nosso cansaço não se justifica, já que não fazemos nada. Para os filhos, as mães que não trabalham fora de casa, têm uma rica vida. Tudo o que aparece feito, deve ser por acaso. Casa, comida e roupa lavada, tudo sempre impecável é nada mais nada menos que um dado adquirido que ninguém quer saber donde vem, quanto tempo leva nem o que custa. 

Passados todos esses períodos de implicância, vem finalmente a tolerância, o elogio e a graça que até fazem questão de demonstrar. 

Palavras leva-as o vento

 

 

 

Palavras.  Como elas falam a verdade mas também mentem. Eu amo as palavras mas também as temo,  porque às vezes elas são mal interpretadas, quando ao meu jeito as escrevo.  Nem sempre exprimem a ideia que quero transmitir, pela pressa ou pouco cuidado com que foram usadas, dando-lhes uma forma desajeitada, ficando quem as lê sem perceber. São palavras mal adaptadas ao que quis realmente dizer, o que às vezes, sem querer,  provoca quem se sentiu provocado, reagindo conforme o que entendeu. 

As palavras são brutais! Escritas, faladas, ou transformadas em silêncio. Não pensem que a ausência de palavras não fala. O silêncio diz tanto! Tanto que às vezes incomoda muito mais do que as palavras, ou ao contrário, pode ser a semente do melhor consenso entre duas pessoas que não precisam de muitas palavras para se fazerem entender. 

A pressa de dizer, um vício do ocidente, usa palavras gastas que separam e que ferem quem as ouve ou quem as lê. Não se dá tempo ao tempo para que as palavras sejam sentidas com o devido valor, aquele que se pretende atribuir mas que os outros entendem de forma diferente.   Elas também confortam, mas essas leva-as o vento e as nossas cabeças tontas depressa as esquecem, depressa também as descartam. Seria preciso inventar outras palavras de conciliação permanente que nunca fossem esquecidas, pelo uso de palavras esgotadas, as tais que usamos frequentemente. No oriente as palavras são trocadas pelo silêncio para que haja reflexão interior e compreensão abrangente. 

As palavras podem ser bonitas ou ofensivas. O mais extraordinário é que as palavras bonitas não têm o mesmo impacto que as ofensivas. Gostamos de ler ou de ouvir as bonitas, mas não as retemos como as ofensivas que deixam marcas sempre presentes.  Quer tenham sido escritas ou faladas intencionalmente, quer tenha sido pela forma descuidada com que foram aplicadas, na altura menos conveniente. O poder das palavras!  Tanto desumano e animalesco, pelo carácter de sentimentos depreciativos, ou belo e generoso pelo afecto compreensivo e temperamento protector.

As palavras são metade de quem as aplica, metade de quem as recebe e talvez por isso sustentem discussões onde ninguém é vencedor. As palavras são estranhas, lindas, assustadoras! São fundo sem fundo, terra sem chão, mas também uma grande fonte de inspiração para  os que escrevem, para os que leem, para os que falam e para os que preferem senti-las no silêncio. 

O teu umbigo

 

 

 

 

Sabes qual é o grande problema de hoje em dia? É o olhar concentrado no teu próprio umbigo. É o não querer saber de quem está ao teu lado, quando estás mesmo ao lado de alguém que precisa da tua companhia. Alguém que até é tão bom ou melhor do que tu, com qualidades de pessoa altruísta mas que tu desprezas porque está com um problema que tu nem queres saber. É chato lidar com problemas. Mas eles existem! 

Se fosses tu? Imagina-te no lugar da pessoa que olha e se importa, que pergunta porque quer saber, que procura porque precisa.  De ti. Dos outros. Imagina-te ainda com um problema qualquer, sem saber a quem recorrer, olhando de forma desesperada para o lado e só ver, pessoas concentradas nos seus próprios umbigos. Imagina-te a correr à procura de alguém que te olhasse de forma genuína e que não a encontrasses em lugar nenhum da tua vida. Que loucura seria! Que tristeza seria! 

É o que mais acontece hoje em dia. Pessoas que não olham para os outros, que não querem saber, que não sabem lidar com problema nenhum, nem conhecem ninguém que se ofereça naturalmente para lhes fazer companhia, quando mais precisam. 

Ter problemas é difícil. Mas mais difícil ainda é saber que ninguém se importa. Que todos fogem na direcção oposta, olhando descaradamente para o seu próprio umbigo. O seu ego, a sua beleza, a sua conquista. Pessoas que não olham, que não veem, que não se importam. Pessoas que perderam a noção da sensibilidade, pessoas altamente egoístas que nem têm sequer condições para reparar nas suas piores características… 

O sonho comanda a vida

 

 

 

 

Tenho estado a pensar no que acham os outros, se bem que, neste caso específico não interessa rigorosamente nada.

Acham o quê, que já não tenho idade para sonhar?  Pois fiquem sabendo que tenho imensos sonhos por realizar e que ainda não caí na desgraça de desistir, baixando os braços. 

Não me conformo nem pouco mais ou menos, nem aceito ficar sem sonhos, tão bons de sonhar. Já fiz planos inclusivamente, tracei caminhos, com desvios e atalhos, pensando nos obstáculos e tudo mais.

Acham o quê, que vou falhar?  Falha quem desiste de tentar.  Meus queridos, metas a gente atinge, desafios a gente enfrenta, custe o que custar!  A esperança é a última a morrer, não é mesmo? Então?  É a ela a quem me amarro com unhas e dentes enquanto fumo o meu cigarro. E quanto mais me xingam, quanto mais me contrariam, quanto mais me tentam amarrar, mais vontade tenho de seguir para bingo, mesmo ao domingo que é dia de descansar. Não não, haha não sou demente não, mas sim aquilo que irrita muita gente e a que se chama ser persistente até às últimas consequências, independentemente da porrada que me entra a 100 e me sai a 200 a voar, com uma cuspidela de desprezo por quem acha que me pode atropelar. Acham o quê? Toumaborrifar!

Não se deixem enganar pela minha idade nem nada disso. Sonha-se em qualquer idade, porque afinal o sonho comanda a vida. Além do mais, a minha determinação está em movimento e nada a pode parar, pelo simples facto do meu empenho ser real. 

Deixem-me sonhar à vontade, quando me apetece, seja lá a que horas for. Há tantos motivos de sonho que se vocês soubessem, estariam calados, sorrindo apenas enquanto sonhavam. 

 

Quero o meu amor de volta, o meu país.

 

 


Está na hora de levantar e de dar corda aos sapatos. Impõe-se enfrentar o boi, aquele que reina por ai e nos ameaça com os cornos, sem um pingo de vergonha ou sequer consciência do estado do povo, que perante a ameaça baixou os braços, geme e reclama entre dentes e apenas vibra e estremece com o futebol. Então e o resto?

Onde é que já se viu? O que é feito da coragem e do orgulho em ser português? Porque deixámos que a nossa língua fosse amputada, deixando-nos na dúvida de como escrever? São factos e não fatos sem "c, que nos deram motivos de sobra para nunca esquecer a nossa história, gente brava e destemida que alargou o país, navegou por todo o mundo, fazendo deste lugar a ponta de lança da expansão europeia e não apenas um pedaço de jardim.

Se conseguimos sair de outras crises ao longo dos séculos, porque não agora? Porque nos deixámos adormecer e viver dentro dum pesadelo, acomodados à tristeza de alternativas inexistentes e que ninguém se dispõe a restabelecer. 

Os governantes não fazem o seu trabalho. O poleiro só serve para encher os bolsos, entre promessas vãs em que já ninguém acredita, enquanto a malta se ensopa em petiscos e cervejolas. Somos assim desgovernados sem nenhum líder capaz de dar esperança ao povo, povo esse que se abandalha em vez de trabalhar para recuperar o país. As greves partidárias afogam cada vez mais quem ainda tenta nadar no meio de correntes fortes e feias, tentando mostrar o quanto vale. 

A gente nova, assim que pode… balda-se. Pudera! Quem lhes dá a recompensa por terem dado o corpo ao manifesto, investindo na aposta dos seus projectos? Quando chove, há apenas popostas de estágios não remunerados, sem qualquer contrato, ou então recibos verdes que lhes levam tudo o que ganham quando chega a hora de pagar impostos. É uma prática instaurada, o triste fado que há para oferecer. 

O acessório tomou o lugar do essencial e não há justiça nesta democracia onde ninguém assume responsabilidades. Uns vivem bem enquanto outros morrem de fome, admitindo, ao encolher os ombros, que é mesmo assim. 
Não há sequer dinheiro para pagar o que se come? Investe-se na porca miséria em vez de investir no país, gerindo sem qualquer espécie de eficiência para reerguer o esplendor da nação, o critério de berço ou raiz.
 
 
 

 

 

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