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Digo eu

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Tenho mesmo que partilhar!

 

 

 

 

 

Não vou contar a história toda do meu irmão Gonçalo, o décimo sexto dos dezassete. 
Só para terem uma ideia, sempre foi um miúdo sensível e ingénuo ao mesmo tempo que era disparatado e malandreco. Teve uma vida razoavelmente normal, sem grandes acidentes de percurso, excepto a parte das asneiras que levou a minha mãe a prometer mandar rezar um Te Deum (um hino de acção de graças), caso ele chegasse inteiro aos 18 anos. Assim foi!

O Gonçalo casou, casou com a Zeza e tiveram 4 filhos. Depois do casamento da única filha, a mais velha dos 4, foi diagnosticado à Zeza um cancro numa fase relativamente avançada. Um balde de água fria para toda a família, especialmente para o casal.

Durante 2 anos, o combate foi indescritível, a coragem e a fé inabaláveis. O Gonçalo meteu baixa para que fosse possível acompanhar a Zeza em todas as fases da doença, cuidando dela noite e dia, quase sem respirar.

A esperança ia e vinha, ao mesmo tempo que o desespero se instalava, durante aquele período de grande sofrimento e de uma enorme força interior, em que o esforço se conjugava com a determinação em vencer a doença. Ali estava o Gonçalo, ali estava a Zeza, os dois unidos pelo seu grande amor.

Foi uma batalha difícil e cruel. Pouco a pouco a Zeza ia perdendo as forças diante do cancro que ganhava terreno. Até que chegou a hora de partir, de ser levada por Deus, de deixar os filhos e o Gonçalo com a alma cheia de vento e o coração vazio, sem nada que o consolasse.

O Gonçalo ficou sem a Zeza e ficou também sem emprego, com os dois filhos mais novos em casa, os dois que mais precisam de cuidado. Ficar sem a Zeza, sem a sua presença tão marcante, foi a pior prova que teve que enfrentar, prova essa que nunca vai acabar. Dar um novo rumo à vida era quase impensável, ainda para mais sabendo que sem emprego, sem grandes perspectivas de conseguir um lugar, era uma uma espécie de inferno a dobrar, um descalabro total, por todas as razões que devem imaginar e que nem merecem ser mencionadas.

Depois de vários meses a enviar o seu curriculum e a depara-se com a realidade de portas fechadas, escancarou-se finalmente uma janela com um emprego e um salário. Nos dias que correm, considero este facto um milagre!

Esta é a melhor notícia dos últimos tempos! Durante as caminhadas diárias do Gonçalo, em Vila Nova de Santo André, em que muito deve ter rezado, Deus deu finalmente sinal de ter ouvido as suas preces. Que esta nova etapa traga ao meu irmão Gonçalo tudo o que ele merece e que Deus continue a estar ao seu lado.