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Digo eu

Digo eu

Soube-me tão esta derrota...

 

 

 

 

 

 

Esta vitória de ontem sobre os franceses que nos consagrou Campeões da Europa pela 1a vez, é a minha vingança mais terrível, aquela por quem esperei quase uma vida inteira.

Pois é. Neste caso específico, tenho que admitir que sou mesmo vingativa

É que vocês não sabem o inferno onde aterrei aos 13 anos de idade e onde permaneci um ano inteiro da minha vida. 

Vivi em Versailles com uma das minhas irmãs, onde estudei e ela em Paris. Estávamos instaladas num apartamento, onde a vizinhança era terrível. 

Sabem o que é ser desprezada aos 13 anos?

Sabem o que é ter a vizinha de baixo a insultar-vos todos os dias?

Sabem como uma pessoa se sente aos 13 anos,  todo o dia sozinha e não ter uma única palavra simpática, um único bom dia?

Sabem o que é não poder ouvir música baixinha à 1h da tarde, sem ter que levar com o barulho do pau duma vassoura a bater-vos nos canos?

Sabem como uma adolescente se sente, quando tem a polícia a bater-lhe à porta por ter puxado o autoclismo às 8h da noite? 

Como se explica não ter havido uma única pessoa no prédio inteiro que olhasse sequer para a minha cara? 

Como se sente uma miúda de 13 anos por não ter uma única amiga na escola? 

O que faz uma miúda daquela idade ter medo de sair à rua, falar fluentemente francês e deparar-se com gente que a olha de lado quando diz que é portuguesa? 

Como fica qualquer pessoa que recebe de braços abertos a mãe que a vai visitar e tem que gramar com a porta a bater-lhe na cara, seguindo-se da gritaria da vizinha a chamar-lhes de putas

O que faz uma miúda chorar todas as noites cheia de angustias? 

Quais são as recordações que podem ficar? 

A curiosidade de voltar para ver o que mudou? 

Ainda não tive a coragem muito menos a vontade.  

Ainda não fui capaz de ultrapassar o facto de ter sido tão humilhada.

Não tenho nenhum respeito por gente arrogante e racista.

 

Esta vingança valeu a dobrar. Pelos portugueses que trabalham em França. Por mim e pela minha irmã que não tínhamos como nos defender de uma gente tão mal-educada, tão petulante, tão sinistra.