Se a gente não se chateasse tanto
Se a gente não se chateasse tanto, seria mais fácil. O mundo não acabaria amanhã só porque as férias acabam, o regresso à vida de trabalho não seria dramático, o trânsito não faria diferença nenhuma, o calor seria o mesmo e a ida para o aeroporto marcada para dia 2 com a despedida, mais uma vez a despedida, seria mais fácil.
O Verão ainda não acabou mas amanhã será inverno porque nos bate à porta a claustrofobia e a neura antecipadas. O dia 1 e o dia 2 conspiram entre si e conspiram contra nós numa guerra aberta donde apetece fugir, desatar a correr sem parar, até à chegada das próximas férias, do próximo encontro, sem haver a parte chata do meio que nunca mais acaba e a quem a gente chama simultaneamente de gandaporra e saudade.
Mas a gente chateia-se e não é pouco. É como levar um enxerto de porrada, sem conseguir levantar um dedo para nos defendermos e darmos porrada de volta.
Seria bem mais fácil se a gente não se chateasse tanto com a vida que dá e tira, leva e traz, cai e levanta. E a gente não vê a sorte que tem da vida que tem ser tão fácil.