Mulheres de carrapito e pano do pó na mão
Sabem aquelas mulheres que têm arcaboiço para tudo e que sentem orgulho no que fazem, apesar de não receberem elogios pela sua entrega e devoção?
Eu cá ponho um carrapito no alto da cabeça e avanço com os meus apetrechos de limpeza para esfreganhar a casa, mas nunca nada fica tão limpo que resista até depois da entrada dos cães em casa. A verdade é que ninguém repara no que está limpo mas antes no que ficou por limpar.
Mas há aquelas mulheres que, para além do carrapito, têm uma força de vontade e uma determinação de se ficar boquiaberto. Elas não deixam nenhum canto por desencardir, arrastando máquinas e frigoríficos, armários e sofás, para que não haja nenhum vestígio de falta de asseio do lar. Batem o pó dos tapetes, lavam vidros à torreira do sol e deixam até as calhas das janelas num estado de se ficar incrédulo. Aspiram a casa, lavam o chão, desinfectam WCs e ainda varem varandas e o quintal, deixando tudo impecavelmente despoluído. A roupa está sempre lavada e o cesto com pilhas bem engomadas, tudo a postos para colocar nos devidos armários, onde não falta a arrumação.
Mas elas não se ficam por ai. Para além de todo o trabalho que ninguém reconhece, têm ainda tempo de cozinhar umas belas favas com chouriço, um polvo à lagareiro, uma sopa com os melhores legumes, lavar alface e cortar tomate, assar frangos e cortar batatas, contando sempre com mais algum pendura, um amigo ou um vizinho ou até mesmo com um colega de trabalho do marido.
Por incrível que possa parecer, quando se entra numa dessas cozinhas, não há sequer hipótese de ver um tacho por lavar, um prato fora do lugar ou uma simples pegada no chão. Tudo brilha, tudo cheira a lavado, tudo tem um aspecto invejável e tudo o que se come é apurado e cheio de dedicação.
Alguém reconhece o valor dessas mulheres? Alguém lhes retribui o esforço que fazem?
Nem filhos, nem marido têm a noção do esforço muito menos da abguenação. Elas próprias entregam-se de tal forma que não chegam a saber o que a vida lhes pode oferecer, para além daquilo que fazem com toda a paixão.