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Digo eu

Digo eu

A propósito de paz de espírito

 

 

 

 

Andamos desesperados à procura da paz de espírito, dum cantinho onde seja possível respirar ar puro e beber água fresca do riacho, enquanto suspiramos de alívio quando se faz silêncio. 

As ruas estão cheias de gente e o transito é diabólico. Tudo apita. Até mesmo a calçada incha de ser espezinhada todo o dia sob o calor tórrido que vem lá de cima. O sol é abrasador e a gente sua em bica, correndo dum lado para o outro para chegar mais depressa ao destino.

Já ninguém cabe em Sintra. É impossível apreciar a beleza daquela vila no meio da multidão que a invade sistematicamente para ver quem a conquista. 

As praias transbordam de gente que não ousa por o pé dentro da água fria. Os que se aventuram nas ondas são expulsos pelos apitos dos que temem ter que ir salvar vidas. 

Ouvimos notícias. Poucos se importam com a vida alheia e já nem ligam. Ligam às grandes tragédias, às mortes súbitas de ataques suicidas e insurgem-se contra os que causam porrada gratuita. À noite já nem se lembram. No dia seguinte há mais notícias de bombas que rebentam, de gente que fica sem nada, de crianças que ficam órfãs e de pais que perdem os filhos. Há tantas coisas que acontecem todos os dias! Uns importam-se. Outros importam-se e rezam. Outros importam-se e ajudam na medida do possível. E depois há os outros que criticam.  O quê, dar abrigo a potenciais terroristas?  

Queremos paz e silêncio mas recusamos prestar ajuda? Rezamos por nós ou pelos outros que mais precisam? É tudo tão difícil! Não sei como nem onde vamos encontrar a paz de espírito, sabendo dos que ficaram sem nada, do barulho que anda nas ruas, da gente que se atropela para chegar ao destino pela via mais rápida, ficando horas na estrada em pleno engarrafamento, para no fim se juntarem à maralha que ocupa todo e qualquer espaço de visita. Andamos atordoados todos os dias amarrados ao supérfluo. O que mais importa... bem que se lixe, adia-se.