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Digo eu

Digo eu

Eu queria ser hippie e ter uma roulote

 

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Sabem aquela ideia super romântica que se tinha sobre o amor e uma cabana? Pois, isso já era ou se calhar nunca foi.

Mesmo nos anos sessenta, em pleno delírio hippie com a malta toda de cabelos ao vento a fumar charros e a dar chutos de cavalo que faziam ver cenas muito maradas, umas curtes cheias de estrelas e idas ao mundo irreal que acabavam por acabar mal, a ideia do romantismo nunca passou disso mesmo. De uma ideia. Não acredito que se fosse feliz a viver daquela maneira tão desprendida de bens materiais e com uma ausência total de higiene pessoal, a não ser quando estavam sob o efeito daquelas substancias que faziam que tudo parecesse transcendental.

A ideologia do “peace and love” estava certíssima.  O movimento manifestava-se contra as guerras e a violência em geral, contra a injustiça e a desigualdade na sociedade e houve um despertar para a preservação da natureza e para a partilha de bens alimentares.  Até ai tudo bem. Dai passou-se para a liberdade sexual, onde a permiscuidade era prática corrente, o que devia ser uma bela javardeira...  até já estou com vontade de vomitar! 

Imagino um espaço hippie dessa época, com a malta toda em pelota mais a bicharada a passear-se pela casa, desde cães a gatos, passarinhos amorosos e outras coisas menos apetitosas como ratos, baratas e piolhos a saltitarem livremente por todo o lado, ao som de gemidos que vinham das camas e da música da época que eu tanto gosto, onde as letras eram a favor dos oprimidos e da liberdade.   

Eu que sempre tive uma atração pelos hippies e uma queda para ir contra as regras, nunca cai na tentação de entrar no mundo das drogas nem de me descuidar da higiene, embora adorasse andar descalça, ter cabelos compridos  e vestir-me com saias até aos pés. Na minha adolescência imaginava-me perfeitamente  casada, cheia de filhos lindos a viver numa roulotte repleta de almofadas, colchas em patchwork e plantas penduradas nas janelas, onde não poderiam faltar todos os produtos de limpeza pessoal, incluindo água de colónia.  Queria ser uma hippie cuidada e consciente, vivendo livremente com amor e uma cabana, uma horta e pouco mais.  Delírios de uma adolescente que foi entrando na real, dando de caras com a vida que é bem mais difícil do que poderia imaginar.  

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Se por um lado a vida é bela, por outro também é lixada. Para ter o que se quer é preciso ter dinheiro e para ter dinheiro é preciso trabalhar. 

 Já não existe sequer a ideia de amor e uma cabana, mesmo estando perdidamente apaixonado. Quem pensa juntar os trapos, quer garantir à partida um lugar com toda a comodidade e todos os extras que se tornaram bens essenciais.