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Digo eu

Digo eu

Malucos e loucos, heis a diferença

 

 

 

 

Há uma mania bem característica nossa, aquela que sai da boca de toda a gente para falar de seja quem for: “ah esse gajo? Esse gajo é maluco!” Somos todos malucos em Portugal, quer sejamos certinhos ou extravagantes, crentes ou agnósticos, gordos ou magros, baixos ou altos.

Essa maluqueira abrange qualquer idade e não depende de qualquer extracto social. Ela está em toda a parte, de norte a sul do território nacional, abrangendo até os que emigraram para terras distantes à procura da sorte.  Não interessa aprofundar donde vimos ou quem somos, o que fazemos ou deixamos de fazer, porque seremos sempre malucos por uma razão qualquer, motivo de críticas e risotas, mesmo que gostem de nós genuinamente ou que nos tenham um ódio de morte. 

Há uma grande diferença entre o ser-se maluco (que pode ter imensa graça) e o ser-se louco. Os loucos não jogam com o baralho todo. Por qualquer razão (e a gente não sabe qual) aprendem a viver assim, enganando os outros e a si próprios, através de manhas e chantagens, truques diabólicos, perante os quais ficamos atónitos. As reacções são diversas... Ou temos literalmente vontade de os matar, ou temos pena,  sendo que o mais comum é mantermos-nos deliberadamente longe do problema.  Ser louco é verdadeiramente problemático, tanto para os próprios loucos como para quem os conhece.  

E a gente diz e repete: Como são capazes? O que é que lhes deu para serem assim? Invariavelmente chovem críticas e cresce assim uma falta de pachorra infindável para aturar esses loucos manipuladores e espertos que nem um alho. Mesmo olhando para trás e conhecendo o historial, é impossível colocarmo-nos na pele dum louco desse calibre.  É impossível compreender os actos desvairados, a falta de senso, a chamada constante de atenção através de condutas lamentáveis. 

Não é ridículo mas triste. São gritos silenciosos de gente que se maltrata, que viraram farrapos humanos por razões que nós não percebemos. Não percebemos porque não somos como eles são. São atitudes que nos ultrapassam e nos desesperam, por não termos  a capacidade de saber lidar com tamanha desgraça. Gente sem juízo, tendo ao mesmo tempo a necessidade de escandalizar,  querendo chamar a atenção custe o que custar, seja onde for, escolhendo quase sempre as alturas menos apropriadas.

É assustador. É de fugir a sete pés a toda a velocidade sem querer olhar para trás. Nós que gozamos do nosso juízo, que levamos uma vida normal, que temos os nossos problemas e a capacidade de lidar com algumas frustrações e revoltas, não temos a solução para ajudar esses loucos de quem muitas vezes somos tão próximos.