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Digo eu

Digo eu

Os caminhos de Fátima

 

 

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 Ninguém veio santo de Fátima nem era essa a nossa intenção (atrevo-me a falar por todos). Viemos antes cansados e felizes pelo reencontro com alguns membros da família, já que nunca é possível estarmos todos ao mesmo tempo no mesmo local, à mesma hora e com o mesmo propósito. É muito difícil e cada vez mais raro juntar esta gente toda que cresce a cada minuto e se espalha por todo o lado. Há quem diga que somos uma praga. Eu diria que somos uma árvore rara, cujos ramos nem sempre se tocam por variadas razões. 
No regresso a casa vinha deslaça no carro, a maior parte do tempo calada que nem um rato a pensar com os meus botões. Tinha as pernas a latejar e a sensação de ter um cão com as mandibulas cravadas nas costas, com todo o tempo do mundo para para pensar naquilo tudo, principalmente na paciência do meu irmão Zé, cuja persistência não vacila no que toca à organização penosa desta pequena peregrinação anual, não desistindo nunca de nos juntar à volta do fenómeno de Fátima. Cada um de nós vai e pede pelas mais diferentes intenções ou agradece aquilo que tem que agradecer.
Eu não teria nem um décimo desse empenho nem dessa capacidade. Ainda bem que ele mantém esse objectivo, mesmo tendo eu a certeza que já lhe passou várias vezes pela cabeça mandar tudo às urtigas e dedicar-se a outra coisa menos penosa. No final de cada peregrinação deve sentir que afinal, o resultado final compensou largamente o esforço, as dores de cabeça, os ataques de nervos e a tolerância, enquanto espera ansioso por cada sim ou não. 
Fizemos a via sacra seguindo-se a caminhada debaixo dum sol abrasador. Foram criados 3 grupos distintos: os mais velhos, os do meio e os mais novos para se falar dos assuntos específicos deste ano, incluindo o amor na família , o que cada um achava que devia ser melhorado e quais eram as maiores dificuldades em cumprir o que nos foi proposto. É das raras alturas em que se consegue falar a sério, mesmo entre risos e disparates, abraços e beijinhos que nos apetece dar a quem bem entendemos, criando-se alguma intimidade nos momentos de pausa para descansar, beber água e fumar umas belas cigarradas.
Nos momentos de reflexão houve tiradas hilariantes, discursos profundos e desabafos interessantes à laia de confissão. Falou-se dos amuos, da rebeldia, dos ataques de mau feitio, do amor pelos filhos, do poder da oração, concordando-se ou discordando-se, mas pelo menos dispostos a ouvir o que cada um tinha para dizer, sem ser imediatamente interrompido por outra opinião. Ninguém estava ali para julgar ou para ser julgado, mas sim para aproveitar o momento de oração, nem sempre no sentido óbvio da palavra. 
Correu tudo lindamente. Rezamos um terço cantado e cada um teve a oportunidade de fazer momentos de introspecção. 
Afinal todos acreditamos nas aparições de Nossa Senhora aos 3 pastorinhos, naquele lugar que se tornou sagrado a nível mundial e onde se sente uma aragem diferente e tão especial, quer se seja inteiramente praticante ou não.