Doença ou excentricidade
Aquela mulher sempre foi diferente. Desde pequena que sempre foi diferente. Nunca na vida se sentiu amada, embora em pequena nem soubesse bem o que queria isso dizer. A verdade é que se sentia excluída do resto do mundo e até mesmo da família onde, apesar de serem todos singulares, a sua excentricidade nunca se enquadrou. Era diferente desde sempre e isso não me sai da cabeça. Ninguém sabia como lidar como essa maneira de ser tão bizarra. Era mais uma excêntrica no meio de tantos outros, que como tantos outros, nunca soube aproveitar a excentricidade a seu favor. Parecia a última pétala dum malmequer, onde a sua vez era sempre o malmequer, porque ela assim o determinou, dizendo nunca ter sido amada. Ou foi ela que nunca amou?
Bonita demais, inteligente demais, louca demais. Tudo era demais nela, começando na obsessão e acabando na inércia. Tinha um ar cândido, daqueles descritos nos romances sobre meninas bem comportadas, onde das suas mãos poderiam ter nascido verdadeiras obras de arte que nunca sequer começou.
Enquanto isso, na sua cabeça passavam milhões de ideias impróprias e até mesmo macabras, sem ela sequer se dar conta. Sentia um prazer mórbido nas suas vinganças, aplicando-as a quem ela sabia que não tinha como se defender, aproveitando os mais fracos, se calhar os mais toscos, aqueles que acabavam sempre por lhe fazer os favores. Era uma excêntrica no meio de tantos outros.
Se formos aprofundar a questão, sempre foi uma vítima do seu temperamento, um tanto ou quanto esquizofrénico, que em nada a favoreceu.
Falava-se nisso mais tarde, já depois de casada, em que tudo deu para o torto. Tudo era um terror! Não dava para entender aquela forma bizarra de gerir a sua vida, sem a menor noção de como geri-la, sem se aperceber do terror que causava nos outros.
Aquela mulher sempre foi doente. Terrivelmente doente. Talvez por isso nunca tenha sido amada e foi por isso que nunca amou.
Vai sobrevivendo nem sei como, sozinha e abandonada por todos. Ela é uma mulher doente, sempre foi. Uma mulher excêntrica no meio de tantos outros que nunca soube aproveitar a excentricidade a seu favor.