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Digo eu

Digo eu

Corte de cabelo

 

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Indecisa entre cortar o cabelo ou deixa-lo tal como estava, tinha-se tornado quase numa obsessão. Não sabia o que fazer da sua imagem nem o que achava de si própria. Não queria saber da idade. Os anos de experiência pela vida marcada, perturbavam-lhe a presença dessa imagem reflectida no espelho, em que os sinais de tanta pancada se acentuavam nas suas feições.

Não sabia o que achava de si própria. A vida tinha-lhe arrancado a sua juventude, enquanto vendia o corpo pelas ruas para poder alimentar-se. Tinha saído de casa aos 15 anos para fugir da loucura, da pobreza, e da habitual cena de ser molestada pela besta do padrasto, um homem repugnante encharcado em bagaço.  

Imaginava na paisagem a imagem de si própria. As folhas verdes do verão mudavam de cor e caíam,  levadas pela aragem que as amachucava. Era assim que se sentia - amachucada e indecisa, sem saber o que fazer da vida e do cabelo. 

Ela que tinha saído de casa aos 15 anos, deparava-se agora com o dilema obsessivo da sua imagem, sentada num banco de jardim a ver as folhas cair. Queria mudar de vida, pensava ela. Enquanto pensava indecisa, um simples raio de sol bateu-lhe nas costas e aqueceu-lhe a alma. Pensou na sua imagem e no que queria para si própria, começando por ir cortar o cabelo.