Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Digo eu

Digo eu

As aventuras que Maria (franzina) enterrou na gaveta

 

 

childhood_memories_pm2_by_dummy28.jpg

 

 

 

Feitas as contas, Maria franzina não teve tempo de saber se poderia ter escolhido outra opção de vida diferente daquela que tinha. Quem sabe se não se teria tornado numa famosa pianista, correndo atrás do mundo artístico,  para que as suas mãos expressassem a música, entregando-se tão espantosamente como se entregou à sua sina.

Poderia ter sido um milhão de coisas, caso não tivesse sido arrancada da fase da descoberta para logo se deparar com tantos  compromissos que lhe caiam em cima. Certamente, teria acolhido essa vida com um pouco mais de maturidade, se tivesse vivido algumas aventuras próprias de uma adolescência que ficou assim amputada, repleta de sonhos enterrados no fundo duma gaveta qualquer. 

A vida que passou a ter, estava longe de se parecer com todas as que tinha devorado debaixo dos seus lençóis bordados, ou à sombra das maceeiras à beira do riacho. 

A partir do momento em que casou, nunca mais teve um segundo para se debruçar sobre as escolhas que não fez, já que a sua dedicação estava inteiramente focada para a realidade da casa, dos filhos e do marido. 

Tinha uma boa vida, uma boa casa e a preocupação constante de dar conta do recado da melhor maneira que sabia, desdobrando-se para tomar atenção a tudo o que dizia respeito à sua família. Maria franzina era perfeita nos mais pequenos detalhes, excepto conseguir que os seus filhos entendessem que não era através de beijos que dava o seu amor. 

Não sei como fazia para ainda tempo de tratar da sopa dos pobres, de dar assistência a doentes e visitar velhinhos abandonados pelas próprias famílias. 

Estipulava regras e horários para as 24 horas do dia. À noite, enquanto os outros dormiam, Maria franzina sentava-se para pensar nas 24 horas horas do dia seguinte: destinar almoço e jantar, forrar livros e cadernos na altura propícia, cozer meias e fazer contas à vida, enquanto fumava o seu belo cigarro. Não desistia de nada, nem mesmo de completar puzzles praticamente impossíveis, ou por-se bonita para acompanhar João universitário nos seus compromissos. 

Era com o grupo de amigos que melhor conseguia expressar a sua alegria, a sua inteligência e algumas fantasias. O sufoco do dia a dia e a permanente correria, chegar a todos os de casa consoante o que esperavam ou queriam,  dificilmente o permitiam.