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Digo eu

Digo eu

Um ano novo vem ai

 

 

 

 

Vamos todos andando para a frente, quer queiramos quer não, embalados ao sabor do tempo de uma única direcção. Apenas através das memórias se pode recuar no tempo. É bom saber donde viemos, o que fizemos e quem nos acompanhou, quem nos educou e nos sustentou, quem nos amparou até naquelas fases sinistras em que achávamos que que o mundo estava contra nós, quem nos fez dar as voltas necessárias para abrirmos os olhos, quem nos deu tantas e tão maravilhosas alegrias, quem nos deu o prazer de subir até à lua ou de sonhar acordados. 

Há outras memórias menos boas... Somos tentados a permanecer nelas como se isso nos trouxesse alguma vantagem. Que cabeça a nossa! Que máquina tão poderosa, admirável e infernal que retém verdadeiras e falsas impressões que achamos ter tido, ilusões de uma realidade paralela à que vivemos. O rigor das nossas histórias é tantas vezes recreado por essa máquina diabólica. Memórias... reduzem e aumentam a profundidade na nossa história e produzem uma imagem mais bela ou monstruosa do que a original. 

E o tempo vai andando sem recuar.  O tempo voa contra a nossa vontade e vai deixando o rasto das nossas pegadas que às vezes o vento leva assim como leva as nossas memórias. Temos que andar para a frente, quer queiramos quer não. Temos que  abraçar o tempo e saber tirar partido dessa única direcção. Nunca esquecer de sorrir antes que o tempo se esgote e nos tire o prazer de conhecer a nossa história, tal como a nossa função.

 

 

 

 

 

 

Comece já a curtir

 

 

 

 

Não custa nada curtir. Não custa nada mas parece que estamos aqui a ver a vida a passar. Desperdiçamos tempo com desculpas, desaproveitando esses pequenos lances de felicidade. Deixamos escapar entre os dedos a família, os amigos e as coisas simples da vida que estão mesmo à mão de semear, vendo no dinheiro a única solução possível para encontrar seja o que for que pensamos que nos traz o prazer de estarmos vivinhos da silva. Essa do curtir já teve o seu tempo e andamos agora a abarrotar de preocupações, pensando como tudo ficaria resolvido se ganhássemos a lotaria, o totoloto  ou, melhor ainda, o euro milhões. A insatisfação passou a ser uma constante da vida, e a busca sistemática pelo dinheiro tornou-se numa escolha consciente e frustrada. Optamos deliberadamente por curtir a fossa em vez de aproveitarmos o que o dinheiro não pode comprar. 

A cada novo ano fazemos votos de dias melhores, acabando por nos deixarmos embalar na rotina, a mesma do ano anterior, sem nos atrevermos a experimentar outras alternativas, sempre com medo de dar um passo em falso. Então a vida fica assim como uma pescadinha de rabo na boca, sem nenhuma outra saída ou novidade. 

É imperativo curtir nem que seja só a dançar sempre que nos apetece, vestidos da maneira que calhar. 

Vamos lá falar dos Simões de Almeida

 

 

 

 

 

É preciso ter um certo traquejo para entender os Almeidas. Sim não é para qualquer um. É preciso ter também um certa dose de paciência e um sentido de humor bastante apurado, daqueles que vê na troça e na troca de comentários apimentados uma forma amigável e até mesmo querida de falarmos uns com os outros (ou quando eventualmente nos referimos aos outros). É fundamental não amuar mas entrar na mesma onda sem tentar imitar a entoação tão característica e o tom das vozes com decibéis para surdos - A potência dos gritos é mais que muita e para quem está de fora, acha com certeza que nos vamos todos matar uns aos outros, o que é mera impressão(zinha). Os arranques e as travagens na maneira de falar correspondem obviamente à pontuação e os palavrões são um must que já ninguém dispensa na família. Ninguém aqui é ordinário, note-se! Simplesmente eles saem com a maior das naturalidades, mais em forma de elogio e brincadeira do que desprezo ou indício de maus princípios. 
Quando estamos juntos, somos mesmo um grupo que autoriza a entrada de alguns penetras. Os tais que percebem a nossa raça e conseguem ver mais além. São tão benvindos que me atrevo a dizer que ficam fascinados e viciados, acreditem! 
Talvez haja quem não nos suporte, mas tenho a certeza que são mais que as mães aqueles que gostam de nós. Pela espontaneidade e pela graça e por tantas outras qualidades que têm os S.A.

os meus 55

 

 

 

Já perdi a conta das bênçãos que recebi ao longo de todos estes anos que vivi. Nas coisas simples da vida e nas mais complicadas também há sempre uma bênção, ainda que tantas vezes imperceptível. Aprendi a entende-las, tanto nas entrelinhas como nas evidências de todas elas, certezas que adquiri, graças ao testemunho de provas que me são dadas mesmo sem eu nada pedir. Sou uma pessoa de sorte mesmo em momentos de crise. Há sempre uma luz que me chega através da experiência adquirida. E nos momentos felizes, como o de hoje por exemplo, em que choveram mensagens e telefonemas de todo o lado, tendo tido ainda o privilégio de celebrar mais um ano de vida com pessoas que muito me dizem, foi sem dúvida uma bênção indescritível. O melhor presente de todos foi o do Gonçalo: a vinda inesperada da minha Carlotinha! E a Joana vem aí - MIMI estou feliz <3!!!
Agradeço a todos os que se lembraram de mim, por terem tornado o meu dia muito mais feliz.

Natal

 

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É-me impossível traçar uma linha entre a razão e aquilo que sinto. Não é por isso que deixo de ser lúcida em relação a tudo o que faço ou digo, dando prioridade à minha sensibilidade. Às vezes perco outras ganho e sei que faz parte da vida ter essas duas faces da mesma moeda, em que o troco pode não ser proporcional às expectativas que idealizo como contrapartida da minha entrega. Nada é perfeito. Há quem faça o melhor que pode e é assim que aceito as pessoas de quem gosto. Aqueles que não se esforçam nessa troca de dar e receber, deixam de estar incluídos na lista das minhas pessoas favoritas. Ainda assim, o Natal é para todos. Tenho a sorte de acreditar em Deus, de acreditar que Jesus se fez homem e veio ao mundo para dar a todos as mesmas oportunidades, amando todos sem excepção. Por isso desejo a todos, sem excepção, um Santo Natal com muitas bênçãos e paz. 

Sinto-me próxima das minhas filhas, apesar de não passarem cá o Natal, esperando que sintam no coração esse estado de espírito de misericórdia, escutando a bondade que lhes vai na alma.

Atração fatal

 

 

 

 

Tímida e ingénua, ficou enfeitiçada pelo homenzinho de olhos azuis desde o primeiro convívio, que se resumiu a uma breve troca de palavras de impacto estrondoso. Logo ela que não fazia a mínima ideia do que era a paixão, caiu de quatro, estatelada com aquele tão breve e ligeiro contacto. 

Nessa noite nem dormiu a pensar no tal de olhos azuis, sentindo-lhe o cheiro, imaginando como seria o gosto do seu beijo e o toque das suas mãos, com uma febre estranhíssima que não a deixou pregar olho. O corpo transpirado tremia por baixo dos lençóis e as mãos estavam frias e molhadas.   Tentou de tudo para pegar no sono, desde rezar compulsivamente a contar carneiros que se atropelavam uns aos outros, ler tudo o que era banda desenhada, colocando por cima da cabeça uma lanterna para não acender a luz do quarto. As suas irmãs dormiam tranquilas ao seu lado, o que a deixava ainda mais irritada. Tinha vontade de as acordar, contar-lhes o que se passava sem lhes dizer que a razão estava amarrada no homenzinho de olhos azuis, com quem tinha apenas trocado breves palavras.

Nos dias que se seguiram, andava meia aluada sem conseguir deixar de pensar no tal do homenzinho. O mundo poderia acabar que ela não daria por nada. Andava pela casa quase sem pôr os pés no chão, ignorando as conversas ou as brincadeiras dos irmãos.  

Um belo dia  despertou com o toque da campainha da porta, diferente do habitual. Entrou na sala de rompante e deu de caras com o homenzinho de olhos azuis, por quem achava que estava apaixonada. De sorriso rasgado e olhos azuis, o homenzinho fazia charme a toda a família, pedindo para levar a menina para um passeio com a promessa de regressar antes do almoço. Ela corou como nunca, olhando para a reacção dos pais e dos irmãos que sorriam com ar de gozo. 

Começou nesse dia o namoro com o homenzinho com quem viria a casar. Ela era linda, ele era charmoso. Por dentro eram igualmente estranhos, desencontrando-se um do outro. A única coisa em comum era a loucura, ela por ser obsessiva, ele por ser um alucinado perverso e sonso. 

O terror instalou-se a partir na noite de núpcias, quando a levou para uma casa de putas e lhe chegou a roupa ao pêlo. De seguida violou-a repetidamente, chamando-lhe nomes que ela nem sabia que existiam, tapando-lhe a boca e ordenando-lhe que se calasse. 

Quanto mais ele batia, mas ela se amarrava naquele louco charmoso, de quem emprenhava pouco depois e consecutivamente, achando que tudo aquilo iria mudar. Quanto mais vezes emprenhava, mais o homenzinho ficava louco. 

Toda aquela relação de pura atracção animalesca era doentiamente obscena e desumana. Ela era doente. Ele, um tarado igual a tantos outros.

Esta é uma crónica dramática de sexo sem amor. Um trajecto de neurose, assédio e vício, igual à história de milhões de casais que não se largam apesar de desconhecerem o amor. 

Atitude

 

 

 

 

Todos os dias o mundo desaba debaixo dos meus pés.
Não são só as guerras injustas e a ganancia dos homens pelo poder, as mortes de milhares de inocentes, a pobreza evidente dos que passam fome, a falta de caridade pelo próximo, o egoísmo que sobe em flecha descaradamente, pior do que os gráficos das temperaturas que desmontam icebergues como se fossem peças de lego que fazem subir o nível dos oceanos, ou as espécies de todo o tipo que se extinguem do planeta.

Não são só as crises económicas ou a postura dos políticos que fazem de tudo para se manterem no poder, o dinheiro sujo que se troca já sem se esconder, ou a justiça que se adia e acaba por prescrever.

São sobretudo as pessoas que ainda me espantam. As atitudes que tomam quando sacodem a água do capote, soprando para o ar impacientes, não assumindo a responsabilidade nem a culpa que às vezes têm e que dizem não ter. É o orgulho besta, a falsa modéstia e a hipocrisia por excelência. É a falta de humildade e o convencimento absoluto de estarem sempre certas, seja qual for o assunto que esteja em cima da mesa. É a incapacidade de dar o braço a torcer, pedir desculpa e esquecer, por pura satisfação em serem desmancha prazeres.

Há outras pessoas ainda que me espantam, por conseguirem ser tão boas no meio do mundo que desaba debaixo dos seus pés. As que sabem amar e nunca desistem de ser felizes. As que lutam para concretizar sonhos, por mais escuros que sejam os seus dias. As que ajudam espontaneamente sem pedir nada em troca e agradecem todos os dias o milagre da vida, ainda que a vida seja injusta. São essas que devemos seguir, apostando no desafio da mudança de atitude.

Também existo

 

 

 

 

 

Vou arrancar de mim esse amanhecer triste quando acordo, deixa-lo sair no sopro do fumo do meu cigarro, colocar um sorriso de palco e andar por ai fingindo que é tudo maravilhoso, até um dia acreditar no desempenho do meu papel. 

Vou deixar o sofrimento de lado por tudo o que não tem remédio e aceitar o que vier à hora que acontecer, sem antecipar o medo da desgraça que ainda não veio. 

As peripécias diárias e as sensações de fracasso causadas por choques frontais, vou trata-las como um êxito da minha personalidade. Afinal nem tudo está perdido e eu não sou uma qualquer.  Tenho a minha vontade que não tenciono deixar destruir por palavras menos simpáticas que me são dirigidas, como se a minha opinião estivesse profundamente errada e eu não soubesse o que digo.  Talvez um dia eu deixe de me importar de tanto fingir que não me importo. Vou dar prioridade ao meu ego (não o do egoísmo) para que não haja dúvidas de que existo.

Jesus Christ Superstar

 

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Hoje finalmente montei o presépio. É muito simples, mesmo ao meu estilo e como todas as coisas simples, acho-o maravilhoso. Só tem as figuras principais, onde o Menino Jesus é de uma ternura incrível, dormindo tranquilo de rabo para o ar. Olho para ele ali deitado em cima de palha e não posso deixar de pensar como a sua vida mudou o mundo, dando origem a uma nova religião, contrariando de forma drástica todas as teorias sobre Deus, que até lá, era visto como uma figura temível e implacável. Deus, criador do céu e da terra, um senhor velho de barbas tinha nas suas mãos o poder de castigar os homens pelos seus pecados, enquanto que com a outra se manifestava através dos profetas com parábolas incompreensíveis, mensagens estranhíssimas para o comum dos mortais.

Veio Jesus ao mundo, fazendo-se homem, mas não um homem qualquer. Na verdade todos esperavam

um Messias um pouco mais convencional, um rei todo poderoso, com direito a coroa, palácio e um exército infindável, que viria pôr ordem à bandalheira que se passava, tratando tudo à porrada. 

Afinal, Jesus era um revolucionário que veio criar muita polémica pela maneira como se comportava. Muito cool e sempre na dele andava de sandálias, cabelos compridos e barba, um hippy doutros tempos que perdoava toda a malta. Era um pelintra que dormia ao relento debaixo de qualquer árvore, pescava e andava sobre as águas,  curava os leprosos, os cegos e os coxos, ressuscitava os mortos, multiplicava os pães para alimentar multidões esfomeadas, mas também curtia sentar-se à mesa em casa de gente abastada, onde pregava.

Os discursos que fazia, pedindo aos homens que se amassem e perdoassem uns aos outros, deixava uns de boca aberta, outros de cabelos em pé, outros desconfiados e preocupados com a confusão que criava. Fez tanto ou tão pouco que o povo o aclamou à entrada de Jerusalém, gritando Hosana, tu és o nosso salvador, o nosso rei! O reboliço foi tal, que os mais poderosos das crenças judaicas tinham que arranjar maneira de o condenar e acabar com aquela fantochada.  Andou de Herodes para Pilatos, foi brutalmente espancado, acabando crucificado entre dois ladrões,  para ver ver se a malta recuava. 

Bem, eu só sei é que ao fim de 3 dias, e aliás está escrito, que Jesus ressuscitou dos mortos, voltou a encontrar os amigos e deixou esta mensagem: "Amai-vos como eu vos amei e já agora passem palavra”. 

 

Não durma. Pense

 

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Enquanto trabalhava com uma imaginação quase doentia, tentava lembrar-se como tinha sido  quando era feliz. Precisava que esse estado de espírito se reflectisse nas peças que concebia, tentando dar tudo para que fossem perfeitas. 

Passava a maior parte do tempo entregue a si própria, sem grande vontade de sair. Lá fora chovia, deixando o terreno coberto de lama barrenta e escorregadia e os cães das redondezas não paravam de uivar. Queria ouvir música para fugir ao nervoso miudinho daquela barulheira infernal, mas tinha preguiça de mexer na aparelhagem e escolher um disco qualquer dentro dos muitos que havia.

A solidão estava a tornar-se irritante, mesmo quando se via rodeada de gente. As conversas não lhe despertavam interesse nenhum e dentro da sua cabeça soavam  como se estivesse a ouvi-las atrás da porta. Pergunta-se vezes sem conta que reviravolta era essa tão esquisita, já que não era costume incomodar-se de estar sozinha e quando estava acompanhada, fazia rir toda a gente. Era perita em dúvidas existenciais e não desistia de superar as suas limitações.  Era por isso que tanto pensava para poder avaliar o grau dos dilemas em cascata, nunca lhe passando pela cabeça recorrer a estupfacientes que a fariam perder o controle. 

A simplicidade da sua vida estava a ficar incómoda e a rotina era um sacrifício. Parecia ela que estava no purgatório para se purificar dos pecados, culpas de faltas que desconhecia. 

Sentia-se cansada. Não tinha a certeza se estava cansada de estar sozinha ou se o facto de não se sentir feliz a fazia ficar cansada. A casa dava muito trabalho apesar de estar vazia. Vazia de gente mas cheia de objectos, livros, molduras e caixinhas, conchas e pedras da praia, colecções das mais variadas espécies.

Tinha vontade de se desfazer de tudo e recomeçar do zero. Imaginava uma outra casa, que até podia ser a mesma, com espaços livres para colocar uma oliveira. Essa era a sua árvore predilecta, de raízes profundas que, no seu íntimo, equivaliam à misericórdia divina e à força de uma vida plena. Suspirou à ideia daquela imagem e o seu espírito tornou-se mais pacífico. 

Não estava nos seus planos deixar de sonhar nem mesmo de procurar respostas para as suas questões. 

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