Adeus às feiras
Já lá vai o meu tempo das feiras. Olhando para trás, posso dizer que foi uma experiência interessante, fundamentalmente por ter conhecido boa gente, grandes artistas de coração que se empenhavam para mostrar o seu talento numa banca de rua.
No inicio foi muito interessante por ser tudo uma novidade. O primeiro passo consistiu inscrever-me nas finanças como feirante, para conseguir autorização legal de vendedora de rua. Mandei imprimir facturas/recibos e guias de transporte como mandava a lei, para que tudo fosse o mais limpo possível. O segundo passo era mandar fotografias com a descrição do meu trabalho para os organizadores das feiras, esperando ansiosa pela aprovação e se havia ou não lugar para mim nos respectivos espaços.
Para feirar era e continua a ser preciso pagar e não é pouco. Na véspera carregava o material devidamente acondicionado, chegando cerca de 2 horas antes do inicio das feiras para conseguir um lugar de jeito. Depois de estacionar o carro, dirigia-me aos organizadores para fazer o check-in, descarregando de seguida todo o material. A montagem da banca tinha que ser feita de forma organizada e apelativa para cativar os potenciais clientes, deixando ver claramente o preço dos artigos expostos.
Tinha comigo uma lista de tudo o que levava e à cintura uma bolsa cheia de trocos.
Dum lado estávamos nós vendedores, do outro os que se passeavam, olhavam ou não olhavam, comentavam e regateavam sem muitas vezes dizer bom dia.
Se havia dias de sorte, também havia os de chuto na cabeça em que todo o empenho não compensava o esforço. Dias inteiros ao sol ou à chuva, dias de ventania e dias em que não se vendia rigorosamente nada. O fim das feiras era confuso e cansativo. Era preciso desmontar a banca, voltar a embalar o material, enfia-lo no carro, transporta-lo de volta e arrumar tudo à chegada a casa, incluindo a própria banca, chapéu de sol, sacos e tolha, listas e pastas dos documentos obrigatórios.
Esta brincadeira durou cerca de 2 anos. Tudo o que consegui vender chegava apenas para comprar mais material e pagar um lugar nas feiras.
Olhando para trás, volto a dizer que a experiência foi interessante mas seria incapaz de regressar às feiras. Pelo cansaço, pelos lucros quase inexistentes e pela falta de noção de muita gente que não valoriza nem o trabalho, nem os objectos concebidos com uma imaginação de enorme valor. A escolha entre uma peça única feita à mão ou uma de menor valor igual a milhões de outras, tomba, na maioria das vezes, para o lado do preço inferior.