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Digo eu

Digo eu

Crescer

 

 

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Queria ter a tua energia ou pelo menos parte dela. Acordo pela manhã cheia de ideias na minha cabeça que acabo por não concretizar. Apesar de tudo, nunca deixo de pensar. Em ti e na tua vida, no valor inestimável do empenho em seres maior e na possibilidade que tens de o fazer. 

A portas abriram-se para poderes ser livre de escolher. Queria ter a certeza que estás feliz com o horizonte todo que tens pela frente. Tens a liberdade de decidir aquilo que bem entendes. Vê bem a sorte que tens! 

Ainda assim, vais encontrar pela frente alguns contra-tempos. Sugiro que te habitues a essa ideia. Aprende a aceitar que às vezes é preciso sofrer para crescer. Aliás, acho que já sentiste essa dor; todos os dias te apercebes, que para se ser adulto é preciso largar outros tempos e outras regalias, próprias da adolescência. Ter-me por perto e interessar-me, faz-te mais falta do que julgavas.   

Crescer doí. Doí tudo. É como se largássemos um corpo habituado ao conforto da imaturidade, para vestir outro corpo que ainda nem está pronto para assumir responsabilidades. Não há outra forma de o fazer. Se tudo te fosse dado de mão beijada, não saberias dar o valor ao esforço que fazes.

Quando eu era da tua idade, nunca me perguntaram quais eram os meus planos. Era mais naquela base de seguir um caminho que me estava previamente destinado, sem se dar tanta importância ao talento de cada um. 

As escolhas também não eram assim tão variadas. Acabava-se por estudar uma coisa qualquer que permitisse assegurar minimamente uma vida estável e sustentável. A partir dessa base, fazia-se o resto. Não se pensava tanto na questão de desenvolver uma vocação, que ficava assim reprimida por outras escolhas que não eram nossas. 

Mesmo assim tenho que agradecer - Não sou uma frustrada e não culpo ninguém de ter seguido o meu caminho, que podia ter sido bem diferente. 

Sou grata por tudo o que tive; pela dedicação dos meus pais; pelo meio onde nasci; pelos princípios que me foram passados; por esta família enorme onde há de tudo, incluindo a disfuncionalidade. 

Tenho que agradecer também o facto de ter vivido fora (não por opção minha) o que me abriu a cabeça e me fez ver mais longe do que outras pessoas da minha idade.

Tinha sonhos como tu. E apesar de ser bem mais velha, imagina só que nunca parei de sonhar. Temos mais esse ponto em comum, tu e eu. 

Não quero fechar as portas à esperança, nem às fantasias, nem aos sonhos e tu também não. Para mim seria como dar por encerrada toda uma vida que ainda não acabou.

Comecei já tarde a desenvolver os meus talentos e a dar-lhes importância. Sei que nunca é tarde para se começar, mas mesmo assim, acredito que poderia ter ido mais longe se tivesse começado mais cedo... se a minha aprendizagem tivesse passado pelas artes, por exemplo.

O problema é realmente a energia que se vai esgotando. O entusiasmo é outro, mais comedido talvez, por saber que a realidade me obriga a andar com os pés no chão, quando o que eu gostava era de voar.

Mas sabes que mais? Adoro ver o teu voo - É demais! Para mim, acompanhar esse crescimento é como se eu própria estivesse a voar. Pedia-te então que te abrisses mais comigo, que falasses mais sobre ti e sobre as tuas experiências. Gostava de saber o que sentes e o que mais te emociona nessa aventura que é crescer.

P.S.: Sei que tens muito que fazer e que nem te lembras de ler estes meus recados, em textos que vou escrevendo a pensar em ti. Ou talvez leias  e te dês conta que te entendo, bem melhor do que pensavas.

Provocação

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Quando deres por ti em estado de choque, vais ficar sem palavras. Literalmente mudo. Consequentemente fazes-te de surdo ou de parvo, tentando desviar os assuntos que mais te incomodam. Isso não significa que te esqueces do que ouviste ou presenciaste, muito menos do que sentiste na pele e no coração. Quase que te dá um ataque... Aliás, sentes-te a sufocar com tudo entalado na garganta, e mais tarde, talvez uses esse pretexto para te vingares (se bem que ainda nem pensaste como). 

Ao contrário, podes aproveitar o choque para partir para uma guerra aberta, impondo o teu ponto de vista, botando fogo nas palavras (partindo do princípio que as tuas razões são mais válidas). 

 A educação e consequentemente a linguagem são os veículos principais do primeiro embate. Pensa bem. 

Atrás disso vem uma enorme listagem, onde se incluem os conflitos psicológicos, a postura e o ego. As cenas tornam-se intoleráveis à medida que se repetem, provocando a morte lenta aos que se arrastam, fartos de representar o mesmo papel, fartos da mesma história já sem graça. 

As relações são complicadas. Extremamente complicadas. 

Não sei se sabes, mas é mesmo preciso sair da redoma, fazer cedências e aprender a lidar com feitios que se revelam tal como são, à medida que o tempo passa. 

Das duas uma: Ou aceitas o que te vai acontecendo e vives na boa sem te chateares, ou não aceitas. 

No caso de não aceitares, podes entrar em guerra, quer tenhas o dom da palavra, quer te cales. Se fores daqueles que desabafa a gritar e que vai atirando com as portas (fazendo estremecer as janelas e todos à tua volta)... a raiva até que passa. O pior é para quem te ouve, já pensaste?

Se, ao contrário, engolires em seco e não disseres nada, forma-se-te uma úlcera no estômago, o cabelo fica ralo e a pele numa lástima, como na puberdade. 

Perguntas-me então qual será a solução em qualquer destes casos, ao que te respondo como sempre, que é preciso aprender a conversar. Argumenta e deixa os outros argumentar. Dá um tempo, dá um espaço. Respira fundo e deixa que os outros também o façam.  

Não te queiras impor nem te rebaixes.  Como já deves ter percebido, relacionar-se não é fácil. 

Inquietação

 

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Acomodares-te nunca foi o teu forte. Sempre te vi como uma das  pessoas mais inquietas que conheço. Impaciente e com pressa que tudo aconteça, tens na ponta da língua e dentro do coração o verbo ir, saindo-te pela boca e pelos poros a expressão de comando que tão bem te retrata - "VÁ". Divides-te entre a segurança nalguns dos teus discursos e a fragilidade, sobretudo no que achas que os outros sentem por ti.

Procuras definições que deixas em aberto, para que a inquietação e a curiosidade, que te movem para as coisas vivas, nunca se esgotem. Seria um tédio se se esgotassem as opções dos estilos de vida que queres para ti. 

Sabes que parar é morrer e por isso não paras jamais. Na tua cabeça estão várias hipóteses, que colocas e baralhas em cima da mesa, sem saberes em qual delas pegar. Para ti não há um caminho. Há vários. Vários caminhos com trilhos e encruzilhadas, pontes e precipícios que te fazem pensar que a vida é bela mas também é tramada. 

Procuras a calma para a saborear e logo, logo te irritas quando tudo está calmo demais. Precisas de acção mas sufoca-te o tumulto da desordem e quando chega a paz, vem sempre acompanhada da agonia que te provoca.

Não sei se ainda assim tens consciência das tuas grandes qualidades. Coragem é apenas uma delas e quanto à beleza interior é coisa que tens de sobra.

 

Quem me dera

 

 

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Eu sei que tens pressa de tudo ver e até de amar.  Tens pressa de pisar a terra e de a sentir firme debaixo dos teus pés, antes que te fuja o instante de a poderes tocar.  

Precisas de contemplar com todos os teus sentidos outras existências e factos de uma outra realidade. Ver como andam outras gentes e participar nessa vida que levam, amando e respeitando cada lugar. 

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Quase que vejo através dos teus olhos a terra que pisas, as cores e os trajes, as sementes e os frutos dessas terras, e até os olhares que se cruzam com o teu. 

Sinto o ar quente que respiras, o que te vai na cabeça e na alma e o ritmo do teu coração, inundando de curiosidade. 

Sinto a tua paixão pelas experiências únicas, por todos os minutos de cada momento, por cada dia e cada noite que vives com intensidade. 

Sei o quanto aprecias a beleza desses lugares e o desejo profundo de trazeres contigo as imagens de uma terra que amavas, mesmo antes de lá chegares. 

Tens pressa de tudo ver, mesmo pedindo ao tempo que passe mais devagar. 

Cada amanhecer é divinal. Cada dia aproveitas tudo o que podes, talvez com pena que o tempo se esgote, antes de tudo assimilares.  

E quando a noite cai, olhas para o céu e agradeces tudo o que testemunhaste, assim como a sorte de teres partido nessa viagem.

Quem me dera ter viajado com a tua idade. Quem me dera ter podido presenciar, o que apenas lia nos livros e me fazia sonhar. Quem me dera ter tido a coragem de ganhar asas para voar. Quem me dera ter visto o que os teus olhos veem, à medida que te descrevo, adivinhando os teus passos.

24 anos da minha Carlota

 

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Eu achava que sabia o que era o amor, até descobrir que ia ser mãe. Tudo mudou desde ai. O mundo mudou e eu mudei. A natureza transformou-me com todas as suas leis e eu senti o prazer de te ter cá dentro, só para mim.

Tive medo também. Medo de fazer alguma coisa que te prejudicasse, medo que não fosses perfeita a até medo de não saber dar-te tudo o que precisavas. Afinal, sabia lá eu o que era ser mãe e tudo o que essa condição implicava? E depois tu nasceste, linda e perfeita como mais ninguém, com aquele cheirinho a bebé e aquela pele tão suave. Quando as tuas mãozinhas agarraram as minhas, eu soube enfim o que era o amor incondicional. 

Não sei se se explica o que não dá para explicar. Deixei de pensar em mim para pensar em ti e descobri o sentido da vida. Descobri que era mais valente do que pensava, que o meu sono e o meu cansaço podiam esperar sentados, já que ser tua mãe passou a ser a minha maior prioridade.

Sempre foste uma miúda sensacional e tornaste-te, sem dúvida alguma, na minha artista, na minha maior referência de integridade, sendo mais do que perfeita em tudo o que fazes.

Parabéns meu esquilinho pelos teus 24 anos. Por tudo o que és, por essa tão admirável dedicação e empenho em tudo o que fazes e por me fazeres sentir um grande orgulho em ser tua mãe. 

Espero nunca te ter falhado.