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Digo eu

Digo eu

Consciência

 

 

 

 

 

Não sei se gostava de ser uma pessoa de sucesso. Ter sucesso dá muito trabalho e não é esse género de trabalho que aprecio.  No entanto, gostava de ser bem sucedida na vida. Até certo ponto até o sou. Faço muitas coisas que gosto sem ter que prestar contas a ninguém, o que por si só vale mais do que ser uma pessoa de sucesso. Poderia ganhar mais do que ganho, mas também poderia não ganhar nada. Em contrapartida ninguém manda em mim em termos hierárquicos, mas tenho uma consciência que me guia.

Levanto-me e deito-me sem prestar contas do meu dia a não ser a mim mesma. Ter consciência é isso. Pensar no que ando por aqui a fazer e saber se estou ou não satisfeita com a minha prestação diária. Às vezes acho que poderia ter sido melhor, outras acho que dei o que melhor que podia. 

Não tenho muitas posses, embora tenha algumas. Tenho uma casa, um carro não passo fome e tenho uma família. Não me posso comparar com os que nada têm nem com os que têm tudo. Provavelmente sou uma pessoa de sorte e às vezes nem me dou conta disso. Outras, dou comigo a pensar na sorte que me calhou e fico com vergonha por me ter queixado, quando olho para a realidade de vidas bem mais tristes do que a minha. Isso é ter consciência. Completo-me e sou espectadora de mim própria com centenas de vozes que me falam e me dirigem. Fui educada para ter consciência e apercebi-me dela com a minha primeira mentira.

Ter consciência condiciona toda a minha vida e talvez seja a única coisa que me impede de ser totalmente espontânea. 

 

Querida mãe, não sei como foi capaz

 

 

 

 

"Aí mãe, não sei donde lhe vem essa força e como consegue aguentar. Olho agora para a sua vida, com os meus olhos de mulher, ao pé de si tão pequenina, e parece-me impossível pensar em casar.

Não quero passar por nada do que a mãe passou! Dedicar-me a vida inteira ao mesmo homem, às mesmas rotinas, aos filhos, ao trabalho, à casa. Abdicar dos meus propósitos e dos meus sonhos, em prol duma mão tão cheia de tarefas ingratas.

Não sei como nunca se revoltou, como foi capaz de seguir a mesma estrada sem olhar para trás. Como conseguiu dar-nos tanto do seu amor, em cada gesto e em cada palavra. Onde foi buscar a paciência e toda essa coragem para enfrentar cada dia, cada situação e cada problema. 
E a energia? Donde vinha ela? Das suas crenças e da sua fé? Da sua persistência? Da sua educação"?

"Minha querida filha... Não te aflijas tanto. Se eu te dissesse que tenho uma receita mágica, estaria a mentir. Não tenho. Eu mesma penso todos os dias em tudo o que disseste. Acredita que não me sinto uma heroína por causa disso. Muitas vezes tive dúvidas e pensei em largar o barco. Muitas vezes chorei pelas injustiças e pelos sonhos que deixei para trás. E depois lá me acalmava, limpava as lágrimas e ouvia as vossas vozes a chamarem por mim. Largava tudo para vos dar atenção... e foi a vossa presença que me deu força. Foram as vossas brincadeiras e os vossos sorrisos lindos, a vossa doçura tão espontânea que me fizeram andar para a frente e nunca desistir. 
Se eu tivesse desistido, o que seria de mim? Achas que teria sido mais feliz? Não meu amor, não teria. Seria apenas uma mulher só e amarga. 
Não me arrependo da vida que tive nem da forma como a geri. E sabes porquê? Porque sempre dei o melhor de mim. 
Porque sempre acreditei que a família é a maior riqueza que alguém pode ter. 
Porque o amor é um sentimento que nunca se gasta, quando é verdadeiro.
Não penses que independência é sinónimo de felicidade. 
Casa sim! Mas casa com um homem que te respeite. Casa um um homem que te ame por tudo o que és e pela maneira como o sabes mostrar. E ama esse homem da mesma maneira. Fá-lo sentir-se seguro com a tua segurança e respeita-o que ele te respeitará. 
Afinal o que são os sonhos? Que sonhos são esses que se deixam para trás senão uma ilusão do que achamos que poderia ter sido a vida? Os sonhos são as nossas conquistas diárias. São eles o que aprendemos em cada dia. E tudo isso nos dá força e coragem. 
Não tenhas medo da vida. Não tenhas medo do amor. O amor é a minha fé e será a tua , se deixares.

Olho para trás

 

 

 

 

 

Olho para trás. Preciso de olhar para trás para saber donde vim e quem sou. 

É lá que encontro as minhas referências e as minhas coordenadas. Não saberia que caminho seguir se não me tivessem explicado onde era o Norte. 

Continuo a olhar para trás para saber onde vou e porque o faço. 

Há toda uma explicação nos princípios que me foram passados, desde o dia em que nasci. A boa educação foi apenas uma delas e talvez uma das mais importantes. Mas não só. Com ela vieram os fundamentos e as convicções, a doutrina e as leis, a fonte e as razões para muito do que faço. No passado estão todos lá, os que agora perdi.

O que sinto é outra coisa. Ninguém me ensinou a sentir tal como ninguém pode sentir por mim. Nisso sou inteiramente original e persistente. Nada me faz não sentir nada. A indiferença talvez seja sábia mas também é desumana. E talvez eu seja uma tonta por sentir coisas tão opostas.  Então nada fica à superfície. Os sentimentos transformam-se em emoções que se prolongam e habitam em mim. 

Olho para trás... Tudo é tão intenso e tão real. Para a frente não sei o que ainda vou sentir. E penso se tudo isso não se resume às saudades que tenho de outros tempos bem mais felizes.