Senta-te ai e ouve-me. Não digas já que não tens tempo com um ar enjoado, nem ponhas aquela cara de desprezo, como se eu fosse a última pessoa que te pudesse aconselhar.
Eu conheço um pouco da tua vida. Afinal és mais um exemplo de muitos que observo por ai.
Todos nós sabemos que a vida não é fácil. Mas repara... Temos tudo nas nossas mãos para mudar algumas coisas e sermos mais serenos, em vez de andarmos sempre stressados.
Não falo de mudar a vida propriamente dita, mas sim da maneira de a encarar.
Se estiveres sempre de pé atrás, certamente nada de bom te irá acontecer, sobretudo no que diz respeito às tuas relações pessoais. As de carácter profissional não são agora para aqui chamadas.
Eu sei que não é fácil mudar. É preciso ter força de vontade e mais ainda ter a capacidade de abrir os olhos para ver o que se passa. O que acontece contigo, acontece com milhares de pessoas, o que é para ti é uma tragédia onde te refugias para te lamentares, como se isso fosse uma doença fatal.
Tudo porque não te atreves a deixar o orgulho de lado, dando-lhe a única importância que merece: desnecessária.
Quando falo de orgulho, refiro-me àquela carapaça que enfias e se adere à pele, dificilmente descartável. Ao fim de pouco tempo passa a fazer parte daquilo que não és, mas que inevitavelmente te retrata, quando se fala sobre ti.
Não queiras ser o mau da história, até porque, se bem me lembro, és bem melhor do que muitos que conheço e que andam por ai a gabar-se.
Não culpes ninguém da imagem que passas. Lembra-te que a escolha foi unicamente tua, talvez por preferires que te desconhecessem a alma.
Então toda a tua vida tem sido infernal. Os outros não se aproximam porque não gostam de conflitos e tu ficas num canto, perdido, amargo, rabugento e magoado.
Já pensaste que também magoas os outros com essa carapaça que não largas?
Aprende a despi-la - Ela não te faz falta. O que faz falta é a tua sensibilidade, a tua paciência e o teu perdão para com as fragilidades alheias e sobretudo para com as tuas.
Aprende a ser benevolente, confiante e justo e concede aos outros a liberdade de discordarem quando falas. Não lhes respondas antes de os ouvir, porque podem ter muito para te ensinar.
Não prolongues o teu suplício nem te queixes da ingratidão humana. Receberás o melhor dos outros quando deres o melhor de ti.
Essa é a melhor recompensa do amor. Não fiques pela metade mas entrega-te inteiramente sem te sentires inferiorizado. Sabes que para amar, basta existir.
O meu conselho é que aprendas a mudar a tua existência. Recomeça do zero se for preciso, mesmo que te custe os olhos da cara. Antes isso do que viveres infeliz até ao final dos teus dias. O tempo não volta para trás, meu amigo. Mas daqui para a frente, peço-te que largues de vez essa tua postura de quem é dono do mundo. Sê antes dono da tua liberdade e faz dela uma ponte de serenidade.