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Digo eu

Digo eu

Pretérito quase perfeito

 

 

 

Nesse teu pequeno corpo muito bem proporcionado existe uma mente brilhante (quem me dera chegar-te aos calcanhares)!

Fico espantada ao me aperceber como consegues manter abertos inúmeros ficheiros com informações tão complexas, que consultas sem pestanejar, assimilando tantas ideias que vais pondo em prática.

Não te considero uma pessoa organizada e talvez por isso fique fascinada com os resultados que consegues alcançar.

No meio de rabiscos e papéis espalhados, computador ligado ao teu mundo, música sempre a bombar, vais realizando projectos extraordinários próprios da tua imaginação.

Apesar de indecisa, és uma pessoa dedicada, que demora o seu tempo e se entrega de corpo e alma a tudo aquilo que pretende abraçar.

Buscas sempre a perfeição. Nessa tua cabecinha existe um raciocínio absolutamente genial, que nem sempre consigo alcançar. 

Talvez o meu vocabulário seja pobre para fazer justiça às tuas capacidades e às tuas qualidades que são de espantar.

Parece que já nasceste com uma varinha mágica na ponta dos dedos, tornando possíveis todas as missões que te são propostas. 

Questiono-me muitas vezes se isso é quanto basta para te sentires realizada.

Tens uma grande sensibilidade que te leva onde queres chegar e aposto tudo na tua criatividade.

Porém és bastante reservada e falas pouco daquilo que te vai na alma. Não me fazes confidências, não falas de ti nem dos outros, o que às vezes faz falta...

Eu sei que não tens que ser feliz à minha maneira. Os nossos conceitos podem ser diferentes e nem sequer acho esquisito. 

O que noto em ti é uma certa resistência em concordares comigo, quando falamos vagamente sobre o futuro. Não tenho uma ideia claro sobre o que mais te preocupa, mas já agora adoraria saber se tens alguns planos que ainda não partilhaste comigo.  

Um dos meus desejos é que um dia dês espaço ao teu lado mais louco. 

Que deixes transparecer a tua insegurança e fragilidade. 

Que encontres um príncipe encantado com quem partilhes risos de fazer chorar, que pules de tanta felicidade, sem tão pouco te preocupares com o que os outros possam pensar.

 

Saber rir

 

 

 

 

Deixa-os lá falar. Deixa-os espernear, entusiasmados com a espuma que lhe sai pela boca envenenada. Na perspectiva deles o que dizem está certo e não há que contestar - eles não sabem rir! 

É pena serem tão pouco saudáveis nessa forma que têm de nos ver. Para eles somos malucos e tudo o que vem por arrasto (provavelmente devíamos estar todos internados num hospício). 

Afinal de contas quem nos conhece bem, sabe o coração grande que temos todos nós. 

Mesmo quando gritamos para nos fazermos ouvir. 

Mesmo quando nos calamos para não arranjar conflitos. 

Mesmo quando nos repetimos e nos rimos das histórias que já foram  contadas mais de um milhão de vezes. 

E a cada vez que as ouvimos, lá nos rebolamos a rir, como da primeira vez que foram relatadas por um de nós.  

A nossa imaginação é fértil e poderosa. Tem cores e formas, estilos e plataformas, dialectos únicos e palavras inventadas que só podem fazer rir até as pedras da calçada. 

Quem nos percebe, tem sorte. Entra na onda e deixa-se ir por esta corrente tão própria, criada como estratégia de revolucionar a rigidez da disciplina que fomos obrigados a engolir.

Entre nós sempre houve códigos e troca de olhares que diziam muito. Desde o "põe-te direito ao cala-te, foge, esconde-te e senta-te ai", até ao "estamos feitos e vamos bazar mas é daqui antes que sobre para mim e para ti".  

Encobriamos-nos uns aos outros para nos safarmos, mesmo quando não havia como fugir: das regras, dos sermões, dos estudos, das rezas e das missas, da hierarquia que tínhamos que respeitar, das secas que nos faziam passar e de baixar a bola sempre que era preciso. 

Por isso fugíamos sempre que possível. Por isso nos riamos tanto quanto podíamos. 

Inventávamos alcunhas e fantasiávamos palavras, sempre com o intuito de rir. Dos outros e de nós próprios e até mesmo quando queríamos chorar. Abríamos uma excepção onde havia espaço para curtir, sabendo que nada melhor nos safava, ainda que mais tarde levássemos uma chapada. 

Um amigo de sempre

 

Sempre te vi como o namoradinho da minha melhor amiga, logo como um grande amigo meu. 

Apesar dos cochichos e de tudo o que viam em mim (no fundo eu era aquela miúda que chamava a atenção, mais pela graça do que qualquer outra coisa) não me passava pela cabeça senão olhar para ti como quem olha com ternura para um irmão. 

Enquanto alguns se irritavam com esse teu ar pachorrento, eu deixava-me cativar pelo teu sorriso e aquele ar de malandro de quem, lá no fundo, não faz mal a uma mosca.  

Achava graça à tua postura, ao teu discurso de poucas palavras e aos de muitas, quando bebias uns copinhos a mais. 

Tanto parecias um senhor no meio do grupo, como um puto que não sabia bem o que queria nem o que era melhor para ele. 

Uma das coisas que mais gozo me dava de observar em ti, era o fumo que travavas do teu cigarro ao canto da boca e o que deixavas sair, fazendo argolas de fumo que desapareciam no ar. E eu pensava... Aqui está um gajo que sabe fumar e que aprecia cada passa que dá, tanto ou mais do que eu. Éramos parvos todos os dias, por fumar e nos acharmos crescidos, convencidos donos da razão, mesmo sabendo que não a tínhamos. 

Parecias um senhor doutor de qualquer coisa, não imaginando eu naquela altura do que poderia vir a ser. Mas lá que o teu estilo era engraçado, lá isso era e eu gostava, tanto que me fazias rir a bandeiras despregadas.  

Gostava sobretudo que fosses o melhor amigo do meu irmão e o namoradinho da minha melhor amiga, porque isso me garantia que nunca iria haver confusão. 

Eras daqueles em quem eu podia confiar, fosse a que horas fosse ou em qualquer dia da semana, do mês ou do ano. Mesmo quando não nos víamos, sabia que a nossa amizade era daquelas para toda a vida, por mais voltas que a vida desse, estando nós perto ou cada um em seu lugar. 

Uma amizade como a nossa nunca acaba. E sabes porquê? Porque eras o melhor amigo do meu irmão, a quem sempre deste amparo. Porque eras aquela figura amorosa e doce, o namoradinho da minha melhor amiga, de quem tanto continuo a gostar. Porque sempre foste um senhor, com tantas voltas que a vida deu, com todos os dissabores e bons momentos que já vivemos, tu e eu. 

Apesar de tantos anos terem passado antes de nos reencontrarmos, continuas a ser aquele amigo de toda a vida e para todo o sempre. É por isso que conversamos sobre tudo com a maior descontracção, dividindo as alegrias e as tristezas da vida, próprias da nossa geração. 

Os nossos cabelos brancos são sinal de experiência e de quem já viveu algumas cenas. Ainda assim, quando falamos, podemos voltar a ser putos, relembrando bons e velhos tempos,  rindo-nos com o maior gosto das nossas eternas babozeiras. 

chegou ao fim

 

 

Não me leves a mal. Tenho que ser sincera nesta matéria específica das atracções. 

Já foste uma daquelas pessoas que tinha tudo a ver comigo. Não diria de A a Z, mas quase. 

Poderia atribuir a culpa ao tempo ou à distância e até à vida em geral, embora tenha que admitir que não foi nenhum desses factores que causaram uma barreira entre nós. 

Andei que tempos a tentar perceber o que seria e o porquê desta situação e não consigo  chegar a nenhuma conclusão decisiva. Talvez não haja nenhuma conclusão a tirar. Ou se calhar há 50 mil razões que desconheço. 

A única coisa que posso dizer, com grande pena minha, é que não há mais assunto entre nós. A afinidade tão evidente que existia, perdeu-se como quem se perde numa bruma densa e estranhíssima. Quando nos encontramos, não sei bem o que esperar. Toda a tua postura mudou. Tens um ar sério e raramente falas. E quando o fazes, nunca te ris. 

Há sim um passado que permaneceu no passado. Todos os bons momentos que saboreámos, todas as experiências que vivemos em conjunto, incluindo as conversas, as cantorias e as gargalhadas ficaram no passado. 

Lembro-me bem de tudo isso e a intensidade com que vivemos esses tempos. 

Para mim são inesquecíveis e seriam mais do que suficientes para continuarem vivos, prolongando-se para toda a vida.  

Não sei o que morreu entre nós. 

Só sei que o desmembramento foi acontecendo sem que eu o conseguisse evitar. 

Um telefonema que não se fez, notícias que não se trocaram, um aconchego que não se deu, resultando em desarmonias desconcertantes que me magoaram e me deixaram sem jeito, pior do que o teu jeito de agora, silencioso e amargo.   

Talvez nem te apercebas que a tua mudança foi bastante radical, ao ponto que eu dizer que já não te conheço.

Houve tanto que deveria ter acontecido mas deixou de acontecer, que me leva a crer que o fosso é grande demais para ser superado. 

Não estamos sequer em stand by. Há coisas que chegam ao fim, mesmo não havendo uma razão específica. 

Durante algum tempo fui dando o benefício da dúvida, acreditando nas tuas desculpas. 

A falta de disponibilidade física para estar em todo o lado e sobretudo o tempo que era escasso e passava à velocidade da luz. 

Tudo isso era credível, não me dando para desconfiar que se tratava de falta de atracção de personalidades, ou desencanto pelo passado. 

Quando penso em ti, tenho um misto de sentimentos confusos que me causam um certo transtorno. 

Não sei se alguma vez iremos recuperar desta fase, que se prolonga há tempo demais para ser reparada. 

Ao contrário do que seria de esperar, não deixei de gostar de ti mas também não sei o que gosto em ti. Ou muito me engano, ou tudo indica que nos afastámos, havendo da tua parte um intuito que me é estranho e absurdamente desapropriado.

Para sempre, o meu amor por ti

 

 

 

 

Senti uma urgência súbita em te escrever. Passam-se os anos e há tanto que fica por dizer. Quero que saibas tudo o que significas para mim, que é basicamente o mundo inteiro. 

Mas dito assim, parece apenas mais um cliché, daqueles que se dizem da boca para fora e que nada significam. Apenas soam bem.  

Trouxeste uma lufada de ar fresco à minha vida, apesar de todos os contratempos que envolveram o teu crescimento. Mas quando penso que poderias não existir, quase que morro. O que seria da minha vida sem ti? Em quem pensaria agora enquanto escrevo? 

Não sei nem quero saber. Sei que nada seria igual e não suporto essa ideia. 

Olho para trás e não vejo nada de que me arrependa, a não ser quando a minha paciência se esgotou, a cada vez que me desafiavas e me tiravas do sério. 

Afinal eras como eu, com a diferença que eu não ousava desafiar a minha mãe que sempre respeitei, mesmo quando não conseguia entender algumas das suas atitudes. 

Espero ter-te dado aquilo que precisavas na altura certa, acertando o meu passo com o teu. Não foi nada fácil mas acho que valeu a pena. 

Olho hoje para ti e agradeço ter-te como minha aliada, confiando nesse teu coração tão grande e tão absoluto. 

Agradeço ter-te dado a liberdade de te expressares e de fazeres aquilo que gostavas, porque vejo que tens consciência do quanto foi importante para ti. 

Sempre te amei em todas as fases, por mais críticas que tenham sido. E as fases hão-de continuar a existir, mudando a tua vontade, mas nunca o meu amor por ti. 

Esse é firme desde o primeiro dia. Tão sólido que até te irrita, confessa. 

Não preciso de escrever um testamento que te elucide mais do que isto. 

O que sinto por ti é maior do que todas as palavras de amor que possas conhecer. 

Confia nesse meu amor por ti. Desde sempre, para sempre e mais além.