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Digo eu

Digo eu

Comparações de vida

 

 

 

Não pretendo medir forças nem contabilizar esforços. Pouco importa quem já fez mais sacrifícios, quem já mais sofreu ou quem teve mais sorte. 

Não quero contrastar a minha vida com a tua, as chances que me foram dadas ou as que te foram dadas a ti. 

As fases por que passei são mais numerosas do que as tuas, só porque aqui me encontro há mais tempo do que tu. Por isso também não seria justo dizer que os meus conhecimentos são mais ricos do que os teus. 

Muitas das nossas experiências são praticamente iguais por corresponderem a idades que já ultrapassámos. 

O tempo em que as vivemos não é tão distante assim e não considero que tenhas mais liberdade do que aquela que eu tive. 

As aventuras, os perigos e a falta de consciência ou a ousadia em corrê-los, também são basicamente similares. 

Eu estudei e tu estudaste. Eu aprendi e tu também. Eu corri riscos que tu também correste, aproveitei o que me foi cedido e tu tal e qual. 

Fiz algumas asneiras assim como tu. Meti-me na boca do lobo, procurando safar-me da gravidade, do mesmo modo que tu. 

Passámos por momentos extraordinários e por outros de grande aflição, onde nos primeiros tirámos o maior proveito e nos segundos aprendemos alguma lição. 

Os meus pais não sabiam da missa a metade e eu, como mãe, prefiro pensar que sei algo mais. 

Não te julgo pelo que fazes nem pelo que já fizeste. A dada altura, todos temos a tendência para meter a pata na poça e sofrer as consequência dos nossos actos. 

Não vamos falar de culpas nem atribuir leviandades. 

Sempre ocorreram coisas terríveis e dramáticas. Tanto no meu tempo como no teu. 

Acontecimentos onde não há volta a dar, mortes estúpidas e tão prematuras por descuido ou sem razão que se consiga explicar. E então há vidas que ficam para sempre amputadas e desgostos tão profundos que nada nem ninguém os consegue reparar. 

sem desculpa

 

Há pessoas a quem não tenho nada para perdoar, porque gosto genuinamente delas. Independentemente do género ou do feitio, merecem as chances que eu lhes quiser dar. Cenas menos agradáveis são naturalmente esquecidas e ultrapassadas, já que o elo que existe entre nós, é mais forte do que qualquer desentendimento que possa ter acontecido.  

Tu não és certamente uma delas e eu nem devia perder o meu tempo a falar sobre ti. O problema é que me estás entalado e eu preciso de encerrar o assunto para seguir a minha vida. 

Então, se por acaso um dia me cruzar contigo nalgum lado, vou-te olhar nos olhos, provavelmente sorrindo,  para que sintas a minha raiva e tudo o que ela traz. Desconforto, vergonha (se é que a tens), frio ou calor  (tanto faz) e ansiedade. 

Pior do que traírem a minha confiança, é traírem a confiança das pessoas por quem eu daria a minha própria vida, sem hesitar.

Quando penso em ti, sinto um desprezo profundo, daqueles que é praticamente impossível de relatar. 

Sou muito boazinha até me pisarem os calos. Tenho a noção que sou naturalmente  simpática quando quero, ou uma trombuda  quando alguma razão forte me assim faz parecer. Agora sei: Não tenho nada de bom para te oferecer.

Vi com os meus próprios olhos, os danos emocionais que causaste.  Não tenho nenhum respeito por ti. Não há nenhuma atenuante que me faça rever o teu caso.

Enganas-te redondamente se pensas que um dia eu vou esquecer e perdoar. Não há nada que me possas dizer, nada que possas fazer que me faça mudar de opinião. Até o teu sorriso, o teu jeito dissimulado e esse ar de quem não faz mal a uma mosca me irritam profundamente.

O tempo nem tudo cura, sabes? Às vezes é ao contrário. Quanto mais tempo passa, mais certeza tenho que enganaste a pessoa errada. Talvez não te dês conta disso... Talvez por seres uma pessoa sem escrúpulos e sem carácter. Talvez não te tenham educado ou talvez o tenham feito, embora não tenhas aprendido nada. Ou então é de ti que vem essa ausência de consciência, a falta de noção mais descarada, quando te atiraste de cabeça para onde nem nunca devias ter olhado. 

Quando penso em ti, despertas-me sentimentos que eu nem sonhava que poderia ter. Repúdio. Aversão. Asco. Desdém...

Enfim, se por acaso algum dia te voltar a ver, serei a maior bandida que alguma vez encontraste. Ou talvez nem me dê ao trabalho de olhar para a tua cara, e tudo o que acabo de dizer, encerra definitivamente este capítulo, fazendo aquilo que mais quero. Esquecer que um dia pisaste a minha estrada.

Uma ideia errada de amor

 

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O homem entrou-lhe pela porta, desvairado. Era um daqueles dias de terror absoluto, de gritaria garantida e de insultos por tudo e por nada.
Dos olhos saiam-lhe faíscas, das orelhas sai-lhe fumo como se estivesse possuído pelo demónio.
Bateu com a porta e atirou com as chaves para a mesa da entrada, derrubando o candeeiro que se desfez em pedaços.
Ela suspirou como de costume, revirou os olhos como de costume, tentando manter a calma. Enquanto isso, as pernas tremiam-lhe que nem varas verdes. Nunca se iria habituar àqueles rasgos de loucura, cada vez mais frequentes. Sentia-se infeliz por ela e pelos filhos que não tinham culpa de nada. Quando o homem chegava a casa naquele estado, até as paredes gelavam. Ela aproximava-se de mansinho para lhe beijar a face, na esperança de aliviar a tensão para que, ao jantar houvesse alguma harmonia no convívio em família. Os filhos pequeninos perfilados à porta pronunciavam um tímido “olá pai” ainda sabendo que o caldo já estava entornado. Eles não percebiam os ataques de mau génio do pai, de quem tanto gostavam em dias normais. Não podiam entender aquela hostilidade gratuita para a qual o pai não dava explicações. Naqueles momentos, qualquer diálogo era impossível e o silêncio a melhor solução de todas, senão a única plausível. As oscilações de humor afectavam de forma drástica os comportamentos de toda a gente e o homem não tinha bem consciência desse horror. Depois da fúria passada, queria todos à sua volta, envolve-los nos seus braços e sentir de volta as mesmas manifestações de amor. Era difícil. Era cada vez mais difícil haver uma correspondência espontânea de afecto entre homem e mulher, pai e filhos, que cresciam com uma ideia deturpada sobre o que era o amor. Começando no pai e nas suas oscilações de humor tão incompreensíveis, todos precisavam de uma ajuda urgente e precisa. Não era possível haver paz nem alegria no ambiente disfuncional daquela família.

 
 
 

 

 

 

Deixar de ser para ser

 

 

Longas foram as noites a pensar em ti. Longos foram os dias, cada hora, cada minuto e cada segundo. 

Nunca me saías da cabeça e eu estava a dar em louca. 

Queria ser uma ajuda concreta para cada um dos teus problemas. Não queria que sofresses nunca. Não queria que nada nem ninguém te quebrassem o coração. 

Apesar de saber o quanto estava errada, voltava a cometer o mesmo erro de sempre. Amparar as tuas quedas para que nunca tocasses no chão. 

Os teus pés e o peso do teu corpo teriam que levitar como num sonho, onde as verdades da vida te passariam apenas ao lado, sem causar estragos ou desilusões. 

Queria enfim que vivesses sem teres nenhum contacto com a realidade dos factos.  

Que loucura a minha. Quanta insensatez da minha parte. Que delírio tão despropositado! 

Fui aos poucos percebendo que teria que largar mão dessa conduta. Teria que deixar de ser o teu escudo contra o sofrimento. Esse meu hábito impedia-te de saberes como era viver de verdade. 

Então mudei de estratégia. Deixei de te pegar ao colo para que pudesses ver o mundo e sentires na pele as alegrias e as tristezas da vida. Conhecer cada situação e enfrentá-la, é a única forma de aprenderes a defender-te. A única forma legítima de fazeres as tuas escolhas, em plena consciência e com total liberdade. 

Nunca me recusarei a aconselhar-te, falando-te das minhas próprias experiências. 

Conversaremos sobre todos os assuntos e mais alguns, desde que seja esse o teu desejo. Poderemos fazer comparações sobre os nossos cenários, que apesar de distantes no tempo, não são assim  tão contrários. As mesmas cenas repetem-se vezes sem conta, onde o que se sente e o que se aprende, tem alguma coisa de extraordinário.

 

 

 

Quando o amor não vence

 

 

 

 

Nunca estive no teu estado. Imagino apenas como que será ver a vida de pernas para o ar, depois de já teres tido tudo no seu lugar. 

Deves pensar neste momento como foi que tudo aconteceu, em todas as razões estúpidas ou fudamentadas que te conduziram para um túnel, onde ainda não vislumbras nenhuma espécie de luz. É quase como se te encontrasses num beco sem saída, em frente a um muro de betão armado, construído da terra até ao céu. E ali estás tu especado, sem esperança nenhuma de voltar a ser feliz. 

Quando escolheste esse caminho, não te deve ter passado pela cabeça o que iria acontecer, independentemente dos desencontros que vão fatalmente surgindo numa vida a dois. 

Deves ter especulado tantas vezes sobre como voltar atrás no tempo, passando uma borracha em cima das desavenças e recomeçar de novo. Para isso teria sido preciso saber conversar, deixando o orgulho de lado, sem fazer questão de saberes quem tinha ou não razão.

Viver a dois não é fácil. Nunca foi. Sobretudo porque fazer cedências doí. Dar o braço a torcer, perdoar e seguir em frente é algo que raramente acontece. Raramente se conseguem esquecer as mágoas de cada conflito, tantas vezes contabilizados. 

Cada um está convencido que a culpa vem do outro lado, quando na realidade há sempre falhas dos dois lados. Há sobretudo aquele orgulho besta entre pessoas que se amam, que arrasa até com o próprio amor. 

Seria estúpido da minha parte dizer-te para esqueceres toda essa vida que partilhaste e onde infelizmente, perdeste mais do que ganhaste. 

Pensa apenas que não foste o único. Quando uma relação acaba, ninguém é vencedor de coisa alguma.  Fica apenas um vazio e a terrível experiência dum amor fracassado. 

 

Saber rir é uma grande vantagem

 

 

 

Já perdi a conta das horas em que nos rimos a bandeiras despregadas. 

Quanto mais parvo é o assunto, quanto mais insólito, quanto mais ridículo e disparatado, mais nós nos rimos de forma exagerada. 

Captamos o humor umas das outras e somos capazes de olhar para além das palavras, vivendo uma das melhores sensações que existem nesta vida desvairada.

Exercitamos todos os músculos do nosso corpo com as nossas gargalhadas, (muito mais do que se estivéssemos inscritas num ginásio), espantando qualquer doença e sarando a dor da alma. 

Os que não percebem onde está a piada e nos olham como boi para palácio, são eles selvagens sem qualquer espécie de inteligência emocional, sem qualquer espécie de graça. 

Somos donas de nós próprias, donas dos outros e do mundo inteiro à nossa volta, quando nos rebolamos, caímos no chão e nos engasgamos, enquanto deixamos sair com um prazer imensurável, as nossas profundas e reais gargalhadas. 

É o nosso acto de maior coragem. Rir com toda a potência e sem fazer mal a ninguém, dos disparates que dizemos, das situações em que nos encontramos, abusando tantas vezes da nossa sublime linguagem. 

Bendito sentido de humor. Bendito riso. Benditas nós e essa grande vantagem.

Uma tarde em Lisboa

 

 

 

 

Lisboa é uma cidade cosmopolita, cheia de encanto e novidades. O contraste entre as velhas ruas, edifícios antigos, miradouros, lugares a visitar e a vaga absurda de gente que não nos deixa respirar, dá que pensar.

Esplanadas espampanantes espalhadas um pouco por toda a cidade, onde as pessoas fazem bicha para se sentarem, dá que pensar. 

Para atravessar qualquer rua, ou se anda à cotovelada ou arriscamo-nos a permanecer meia hora no passeio sem conseguir ver o lado de lá. 

Já não se ouve falar português. Grupos de turistas amontoados um pouco por toda a parte, tentam prestar atenção aos guias turísticos que explicam aos gritos a história de Portugal de forma atabalhoada. Ouvem-se muitos disparates!

O calor que se sente ao andar, lembra o clima dum país tropical que nos faz suar em bica e ficar a sentir mal.

Hoje foi esse o cenário que encontrei quando cheguei à capital. Ruas apinhadas de gente, e eu atrás, ora a ter que parar (já com os nervos em franja), ora a tropeçar, ora a fazer gincanas para poder passar. 

Pensei que poderia ter uma tarde agradável, que acabou por ser quando cheguei ao meu destino final (encafuada no pára-arranca do trânsito também ele infernal) para ver a exposição de pintura do Rodrigo Veloso, antigo aluno do Colégio Amor de Deus. Decorre num espaço muito simpático chamado CCQ, na rua de Pedrouços. A Não perder por sinal (patente ao público até dia 20 de Outubro). 

Antes de lá chegar, fiz uma paragem obrigatória no famoso "careca" do Restelo para comer um croissant, daqueles que só mesmo lá. 

O resto foi um inferno! Não tive prazer nenhum em andar pelo Chiado, onde nem consegui ver a calçada portuguesa, os prédios bonitos, ou as lojas típicas, ofuscadas pelas outras que existem em todo o lado. 

Não sei onde isto vai parar!

Não tenhas pressa (um dia já fui como tu)

 

 

 

 

Um dia já fui como tu. Cheia de entusiasmo e com as emoções à flor da pele. Podia sentir os pêlos a irisarem-se, a pele de galinha e o coração a sair-me pela boca. Emocionava-me e comovia-me por tudo e por nada.  Chorava e ria-me tal como tu o fazes agora, sem controlar o que me apertava ou folgava o coração. 

Tinha tantas certezas como incertezas e debatia-me comigo mesma, procurando um lugar que me fosse apropriado e onde eu pudesse afirmar que era feliz e contente da vida.

Queria encontrar o caminho certo para mim. A pessoa certa para mim. A essência certa para mim. Tudo tinha que bater certo e ser ajustado à minha maneira de ser. Tinha que encontrar exactamente aquilo que procurava, mesmo não sabendo exactamente o que era. Essa ideia não me saía da cabeça, não por ser obsessiva mas sim por achar que empenhando-me e analisando-me, enquanto explorava o mundo à minha volta, podia bem lá chegar depressa, sem contra-tempos que interropensem a minha linha.

Os anos foram passando e dei-me conta que a pressa não era um grande trunfo. Afinal os planos vão mudando, as ideias vão-se alterando e as certezas e incertezas também. O que dantes fazia sentido, passou a ser descabido. As prioridades transformaram-se e os sonhos modificaram-se. Muitos dos preconceitos evaporam-se, deixando o ar mais limpo e mais respirável. 

O olhar passou a ser mais generoso, a paciência mais precisa e o silêncio virou um oásis   em vez dum prejuízo. 

Pensa no futuro e faz os teus planos. Mas não traces um quadrado à tua volta. Olha para além do horizonte para que possas sempre aprender alguma coisa todos os dias. 

Não te direi nunca para largares as tuas convicções. São elas que te vão dar alento e a vontade de nunca desistir. Quando encontrares uma dúvida (certamente irás enfrentar algumas), não te deixes cair por terra e desanimar. Pensa apenas que é mais um desafio no teu caminho, um dos muitos que te fará crescer em sabedoria.  

Passo a passo vais encontrar o que procuras. Leva o teu tempo sem correrias ou passos mais longos do que a tua perna. Se caíres, não desistas. Pega nos teus trunfos, usando-os com categoria. 

Sei que vais ser capaz de superar todas as tuas expectativas, quando aprenderes a dar valor ao dia-a-dia.