Comparações de vida
Não pretendo medir forças nem contabilizar esforços. Pouco importa quem já fez mais sacrifícios, quem já mais sofreu ou quem teve mais sorte.
Não quero contrastar a minha vida com a tua, as chances que me foram dadas ou as que te foram dadas a ti.
As fases por que passei são mais numerosas do que as tuas, só porque aqui me encontro há mais tempo do que tu. Por isso também não seria justo dizer que os meus conhecimentos são mais ricos do que os teus.
Muitas das nossas experiências são praticamente iguais por corresponderem a idades que já ultrapassámos.
O tempo em que as vivemos não é tão distante assim e não considero que tenhas mais liberdade do que aquela que eu tive.
As aventuras, os perigos e a falta de consciência ou a ousadia em corrê-los, também são basicamente similares.
Eu estudei e tu estudaste. Eu aprendi e tu também. Eu corri riscos que tu também correste, aproveitei o que me foi cedido e tu tal e qual.
Fiz algumas asneiras assim como tu. Meti-me na boca do lobo, procurando safar-me da gravidade, do mesmo modo que tu.
Passámos por momentos extraordinários e por outros de grande aflição, onde nos primeiros tirámos o maior proveito e nos segundos aprendemos alguma lição.
Os meus pais não sabiam da missa a metade e eu, como mãe, prefiro pensar que sei algo mais.
Não te julgo pelo que fazes nem pelo que já fizeste. A dada altura, todos temos a tendência para meter a pata na poça e sofrer as consequência dos nossos actos.
Não vamos falar de culpas nem atribuir leviandades.
Sempre ocorreram coisas terríveis e dramáticas. Tanto no meu tempo como no teu.
Acontecimentos onde não há volta a dar, mortes estúpidas e tão prematuras por descuido ou sem razão que se consiga explicar. E então há vidas que ficam para sempre amputadas e desgostos tão profundos que nada nem ninguém os consegue reparar.