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Digo eu

Digo eu

A mãe que nunca fui

 

 

 

 

Há mães extraordinárias. Enquanto os filhos são pequenos, são capazes de adaptar a casa à dimensão deles, para que possam mexer, passear, espezinhar e revirar a casa de pernas para o ar. O que dantes era uma casa apresentável e de bom gosto, transforma-se num verdadeiro parque infantil, onde não faltam brinquedos e nódoas por tudo o que é lado. Aceitam, com a maior descontracção possível mudar as regras e os horários, em função de um crescimento saudável, sem contrariar o menor gesto dos seus anõezinhos amorosos, mesmo que se vão tornando nuns selvagens insuportáveis e autoritários. Eles até podem escrever nas paredes, fazer das almofadas tapetes, abrir torneiras para inundar a casa ou abrir os armários só pelo prazer de partir pratos, que elas ficam imperturbáveis, achando que é a única forma de evitar que cresçam traumatizados. 

São mães extraordinárias, essas que se desleixam para que os filhos tenham e façam tudo o que querem, sem uma única chamada de atenção. Para essas mães extraordinárias, o conceito de educar mudou totalmente de feição.

Há outras mães extraordinárias. Aquelas que dão à luz só porque é chique ter imensos filhos. O problema é que mantêm uma distância tão grande dos filhos, que nunca os chegam a conhecer. Entrar na sala só mesmo para dizer boa noite e já vão com  muita sorte. No lugar que devia ser delas, estão outras que se encarregam de os educar, de os mimar, de os levar à escola e à natação. São as outras que sabem dos horários, dos problemas e das chamadas de atenção. Ao domingo, abre-se uma excepção onde a família se junta para ir à missa, todos perfilados e bem vestidos, para que se veja que são cristãos. 

Não lhes passa pela cabeça brincar com os filhos, ir ao parque ou debruçarem-se sobre os TPC. Para tal há explicadores que são pagos para fazer um trabalho que não consideram ser da sua competência ou jurisdição. Chegam as férias e lá vão elas de férias, deixando os filhos entregues a qualquer uma que lhes dê o que elas não dão.

Essas mães extraordinárias acham dramático dar atenção aos filhos, sem a mínima capacidade de resolver possíveis perturbações.