Afinidade
É tão essencial sermos diferentes um do outro, como de termos alguma coisa em comum.
Não falo só de educação nem de gostos.
Não falo em concordâncias absolutas em tudo o que dizemos ou fazemos, já que isso seria fatal.
É mais na base de deixarmos que cada um tenha as suas próprias ideias, que as possamos expressar e mesmo assim sentirmos que existem afinidades.
Vêm elas do mesmo espírito e dão-nos vontade de ficar, de compreender e aceitar as diferenças e a genuinidade.
São as saudades que sentimos dos mesmos momentos partilhados e a necessidade de os reviver em conversas, mostrando tão naturalmente o nosso afecto e cumplicidade.
Temos almas que se encontram na mesma frequência e que vibram com a mesma intensidade. Os laços que nos unem são mais fortes do que qualquer factor que os tente destruir, ainda que venha por inveja e com maldade.
Olhamos um para o outro com olhos de ver e é por isso que tão bem conhecemos o que nos vai no coração, como se o partilhássemos nos nossos corpos desiguais.
Afinidade... Não sei se se explica como acabei de explicar.
Acho que formamos um todo, naquilo que mostramos e no que escolhemos não mostrar. Podem ser coisas diferentes, e apesar de não o dizermos, sabemos quais são e deixamos que assim seja, por respeito e amizade.
Encontramo-nos na mesma esfera sem interromper a nossa privacidade e conhecemos os nossos limites, sem ser preciso delinear espaços.
São as lições de vida que aprendemos e que tão bem se encaixam.
Queremos o melhor um para o outro, ainda que esse melhor signifique coisas tão opostas. Um pode precisar de andar para a frente e o outro de olhar para trás. Mas lá no meio achamos o nosso meio comum, o mais bonito de todos os que já vivemos. É lá que somos autênticos, que vibramos e temos aquela vontade louca de nos abraçarmos.
No abraço não há pressa nem há tempo. Há apenas o nosso afecto que escolhemos compartilhar.