Amizades
Não me fales mais em desgraças! Fala-me antes sobre ti, para que eu me entusiasme e fale mais sobre mim. Não basta o que já sabemos um sobre o outro, porque pode ser um engano. Quantas vezes nos enganamos ao pensar que já está tudo dito, deixando por revelar o que nos vai acontecendo e o quanto já mudámos desde o dia em que nos conhecemos. Já foi há algum tempo, lembras-te?
Desde lá fomos crescendo e a nossa vida foi-se alterando com as escolhas que fizemos. Não há culpas nem nunca houve. Essa mania que alguns têm de falar sobre culpas, serve apenas para se fazerem de vítimas e não para reconhecer erros que cometeram.
Houve desencontros, amuos e autênticos distúrbios mentais causados por afirmação de personalidade, o que faz parte. As opções e o discernimento continuam em aberto pela vida fora, dando-nos a possibilidade de nos cruzarmos e convivermos quantas vezes quisermos.
É preciso tempo. Tempo e paciência. Dar e receber dependem dessa disposição para falarmos sobre nós. Sobre o que fomos construindo, sobre o que fomos alcançando e não só. Temos que ir alimentando as raízes que plantámos, com a nossa generosidade e a nossa dedicação, deixando ver o progresso que, quanto a mim, não tem limites.
Só faz sentido o silêncio se for para contemplar tudo o que há de belo, nessa cumplicidade que um dia projectámos, pedindo que fosse eterna.
Não te quero para preencheres o meu vazio e espero que não seja essa a tua razão para me procurares. A amizade é um encontro de desejos comuns que merece ser alimentado.