Amor
Hoje mesmo falou-se de amor por aqui, não foi? É tão difícil explicar assim preto no branco o que isso é, uma pequena palavra de 4 letras apenas que tem tanto para dizer. Invejo aqueles que o descrevem de maneira tão poética, deixando transparecer a loucura e a paixão, porque doutra maneira é tão foleiro dizer-se :"amo-te"! Excepto quando se está no gozo e aí vale tudo, mesmo quando é isso mesmo que se quer dizer. "I love you" soa muito melhor, ou simplesmente "love you" que se vê escrito em todo o lado, especialmente nos comentários dirigidos a meras fotografias postadas no facebook. Ama-se tudo! Tanto pessoas com coisas, animais, plantas, o mar. Pode-se amar alguém com uma intensidade tal que se fica num estado de transe, meio aparvalhado fazendo figura de tonto. Não é verdade? Os outros até ficam embaraçados ao assistir a essas cenas que ninguém gosta de dizer que gosta de ver.
Pode-se amar até a própria ideia do amor, uma noção que nos passa pela cabeça do que significa a entrega total, o que hoje em dia é quase raro. Pode-se amar um momento específico da nossa vida, porque a memória que fica é de total felicidade. Mas a verdade é que é meio fatela dizer "amor".
Em termos práticos e sem mencionar a palavra, conhecemos o amor dos nossos pais, dos nossos filhos, dos nossos irmãos e amigos, mesmo que muitas vezes duvidemos dele ao ponto de sentirmos raiva, insegurança e um desejo irresistível de discutir, abusar do palavreado ou até mesmo virar as costas e bater com a porta, murmurando entre dentes ou gritando aquilo que todos sabemos.
Quantas vezes em criança fiz eu as malas para sair de casa! Quantas vezes os nossos filhos nos ameaçam ir embora porque estão fartos de ser controlados! Quantas vezes os casais se zangam e dormem em quartos separados! Mais de um milhão de vezes por segundo, em qualquer parte do mundo e isto sem exagerar.
É sabido que o amor precisa com frequência de entrar em guerra para poder fazer as pazes. É preciso soltar amarras e gritar independência para nos certificarmos que temos uma identidade própria, porque o amor também sufoca de tão intenso que pode ser. Quanto sacrifício é preciso fazer!
E depois há quem ame e não seja correspondido. São aqueles que se apaixonam sozinhos sem história comum para dividir, vitimas duma aventura unilateral. Ah meus amigos, isso é fatal! São os feridos que ninguém consegue consolar, os deficientes que não têm direito a nada, nem mesmo passar à frente na bicha do supermercado.