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Digo eu

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As escolhas de Maria (franzina)

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Os acontecimentos na vida de Maria franzina atropelavam-se. De um minuto para o outro ficou noiva de João universitário, 9 anos mais velho do que ela. Era um homem feito e bem educado, cheio de responsabilidades, mesmo antes de começar a constituir família com a menina dos seus olhos, tendo a seu cargo, desde que tinha chegado à capital, os irmãos e os pais.

Casaram-se rapidamente sem grandes alaridos.  Maria franzina vestida de noiva viu-se diante do altar, para prometer a Deus e perante os homens, ser fiel e amar, em dias de sol ou de tempestade, independentemente dos acontecimentos e das circunstâncias.  João fez o mesmo. Proferiu os votos do matrimónio, consciente que tinha que tomar conta de Maria franzina e dos seus descendentes, jurando ama-la e respeita-la na saúde e na doença até que a morte os separasse. João tinha os pés na terra, Maria franzina continuava a sonhar. 

Não tinha tido tempo de se preparar para a carga que ai vinha. Tomar conta da casa, dos filhos, do marido e acompanha-lo na sua vida de trabalho, como seria de esperar.  Quando apareciam juntos, havia quem pensasse que Maria Franzina era filha de João universitário. Ele vestido de fato e gravata, assumindo o seu cargo e ciente dos seus compromissos, ela de saia rodada, ténis e soquettes com ar de quem precisava de correr pela praia perseguindo gaivotas e deixar-se levar pela corrente do mar. 

Os filhos nasciam em casa, uns atrás dos outros com pouco intervalo. Precisavam da sua atenção e dos seus mimos, enquanto ela embalava mais um recém nascido aninhado nos seus braços. Não tinha tempo para respirar diante da vida que se processava a galope, exigindo-lhe muito mais do que podia imaginar. 

Tinha que se manter bonita e atraente, mesmo quando o corpo pedia que descansasse. A vida social intensificava-se à medida em que João universitário assumia posições mais elevadas e o dever de corresponder ao que lhe era confiado. 

A casa ia crescendo, os filhos iam nascendo e as tarefas multiplicavam-se. Maria franzina não tinha mãos a medir para manter aquela empresa de resultados imprevisíveis a funcionar, ocupando todas as funções possíveis e impossíveis, gratas e ingratas, todas elas dependentes da sua competência, do seu dever, do seu carácter e desse amor que tinha no coração que nem sempre se traduzia em gestos de afecto palpáveis. 

Muitas vezes o seu corpo sucumbia e deixava-se cair por terra lavado em lágrimas. Lembrava-se então dos votos do matrimónio, do amor de João universitário, dos filhos que tinha posto no mundo e das demonstrações de amor incondicional que não tinha recebido dos seus pais, e logo se recompunha, arregaçando as mangas para continuar. 

Maria franzina, cada vez mais franzina, era metódica e perfeita nos mais pequenos detalhes. Estabelecia horários e regras aos outros e a si própria, mesmo quando lhe apetecia voltar à infância para subir às árvores e andar à chuva de língua de fora. 

O seu lado de menina e moça ficava entre ela e o seu irmão mais novo, tratado como seu filho mais velho, a quem continuava a fazer confidências e a partilhar gargalhadas, se bem que cada vez mais espaçadas. As asas de borboleta iam mirrando com o peso das responsabilidades e com o tempo, onde já não havia lugar para brincadeiras ou fantasias de conversas ao luar. 

Aos 23 anos deu à luz o sétimo bebé. O seu estado de debilidade era preocupante, tendo sido  avisada pelo médico que teria que ficar por ali, ou escolher entre a vida e a morte. Faltava-lhe dar à luz outros tantos e continuar a sua história.