As incertezas de Maria (franzina)
Nunca se está preparado para as voltas que a vida dá. O futuro é sempre uma incógnita. A casa de Maria franzina e João universitário era um palco sempre animado. Estavam vários sempre em cena e a porta da entrada dava sinal... Surgiam uns, retiravam-se outros, ouviam-se passos e vozes, risos e diálogos entre os presentes das cenas banais do quotidiano, que de banais não tinham nada. Embora houvesse uma rotina e regras que eram para cumprir, os personagens contribuíam para que houvesse sempre alguma curiosidade que se punha em marcha para fazer parte do cenário.
Os filhos iam casando mas a casa continuava vibrante, com uma dinâmica extraordinária. Era ali que todos se reuniam todas as semanas, trazendo consigo os novos membros da família que se multiplicavam a um ritmo espantoso. Mesmo quando os casados saiam de cena para voltar às cenas deles, a casa continuava a rebentar pelas costuras. Entre os da casa e os que se instalavam como se a casa fosse deles (porque o ambiente era propício), não havia mãos a medir. Mais uma vez, Maria franzina tinha uma capacidade invulgar de fazer funcionar aquela peça, com deixas nem sempre evidentes e imprevistos a cada segundo.
Os anos foram passando e outros factos foram brotando à laia de praga, mudando tudo. A família foi-se dispersando e o palco foi ficando vazio. Os acontecimentos sucediam-se, obrigando Maria franzina e João universitário a adaptarem-se conforme podiam. Tomavam-se decisões e cumpriam-se normas imprevisíveis.
Enquanto lá fora a multidão gritava, Maria franzina fazia as malas e desmanchava o seu doce palco, colocando-o dentro de caixotes com uma enorme dor no coração. A vida jamais seria igual e a família, que continuava a multiplicar-se, jamais seria a mesma. Uns partiam desconsolados, outros ficavam apreensivos. Quanto ao futuro era cada vez mais uma incógnita.