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Digo eu

Digo eu

Atração fatal

 

 

 

 

Tímida e ingénua, ficou enfeitiçada pelo homenzinho de olhos azuis desde o primeiro convívio, que se resumiu a uma breve troca de palavras de impacto estrondoso. Logo ela que não fazia a mínima ideia do que era a paixão, caiu de quatro, estatelada com aquele tão breve e ligeiro contacto. 

Nessa noite nem dormiu a pensar no tal de olhos azuis, sentindo-lhe o cheiro, imaginando como seria o gosto do seu beijo e o toque das suas mãos, com uma febre estranhíssima que não a deixou pregar olho. O corpo transpirado tremia por baixo dos lençóis e as mãos estavam frias e molhadas.   Tentou de tudo para pegar no sono, desde rezar compulsivamente a contar carneiros que se atropelavam uns aos outros, ler tudo o que era banda desenhada, colocando por cima da cabeça uma lanterna para não acender a luz do quarto. As suas irmãs dormiam tranquilas ao seu lado, o que a deixava ainda mais irritada. Tinha vontade de as acordar, contar-lhes o que se passava sem lhes dizer que a razão estava amarrada no homenzinho de olhos azuis, com quem tinha apenas trocado breves palavras.

Nos dias que se seguiram, andava meia aluada sem conseguir deixar de pensar no tal do homenzinho. O mundo poderia acabar que ela não daria por nada. Andava pela casa quase sem pôr os pés no chão, ignorando as conversas ou as brincadeiras dos irmãos.  

Um belo dia  despertou com o toque da campainha da porta, diferente do habitual. Entrou na sala de rompante e deu de caras com o homenzinho de olhos azuis, por quem achava que estava apaixonada. De sorriso rasgado e olhos azuis, o homenzinho fazia charme a toda a família, pedindo para levar a menina para um passeio com a promessa de regressar antes do almoço. Ela corou como nunca, olhando para a reacção dos pais e dos irmãos que sorriam com ar de gozo. 

Começou nesse dia o namoro com o homenzinho com quem viria a casar. Ela era linda, ele era charmoso. Por dentro eram igualmente estranhos, desencontrando-se um do outro. A única coisa em comum era a loucura, ela por ser obsessiva, ele por ser um alucinado perverso e sonso. 

O terror instalou-se a partir na noite de núpcias, quando a levou para uma casa de putas e lhe chegou a roupa ao pêlo. De seguida violou-a repetidamente, chamando-lhe nomes que ela nem sabia que existiam, tapando-lhe a boca e ordenando-lhe que se calasse. 

Quanto mais ele batia, mas ela se amarrava naquele louco charmoso, de quem emprenhava pouco depois e consecutivamente, achando que tudo aquilo iria mudar. Quanto mais vezes emprenhava, mais o homenzinho ficava louco. 

Toda aquela relação de pura atracção animalesca era doentiamente obscena e desumana. Ela era doente. Ele, um tarado igual a tantos outros.

Esta é uma crónica dramática de sexo sem amor. Um trajecto de neurose, assédio e vício, igual à história de milhões de casais que não se largam apesar de desconhecerem o amor.