chegou ao fim
Não me leves a mal. Tenho que ser sincera nesta matéria específica das atracções.
Já foste uma daquelas pessoas que tinha tudo a ver comigo. Não diria de A a Z, mas quase.
Poderia atribuir a culpa ao tempo ou à distância e até à vida em geral, embora tenha que admitir que não foi nenhum desses factores que causaram uma barreira entre nós.
Andei que tempos a tentar perceber o que seria e o porquê desta situação e não consigo chegar a nenhuma conclusão decisiva. Talvez não haja nenhuma conclusão a tirar. Ou se calhar há 50 mil razões que desconheço.
A única coisa que posso dizer, com grande pena minha, é que não há mais assunto entre nós. A afinidade tão evidente que existia, perdeu-se como quem se perde numa bruma densa e estranhíssima. Quando nos encontramos, não sei bem o que esperar. Toda a tua postura mudou. Tens um ar sério e raramente falas. E quando o fazes, nunca te ris.
Há sim um passado que permaneceu no passado. Todos os bons momentos que saboreámos, todas as experiências que vivemos em conjunto, incluindo as conversas, as cantorias e as gargalhadas ficaram no passado.
Lembro-me bem de tudo isso e a intensidade com que vivemos esses tempos.
Para mim são inesquecíveis e seriam mais do que suficientes para continuarem vivos, prolongando-se para toda a vida.
Não sei o que morreu entre nós.
Só sei que o desmembramento foi acontecendo sem que eu o conseguisse evitar.
Um telefonema que não se fez, notícias que não se trocaram, um aconchego que não se deu, resultando em desarmonias desconcertantes que me magoaram e me deixaram sem jeito, pior do que o teu jeito de agora, silencioso e amargo.
Talvez nem te apercebas que a tua mudança foi bastante radical, ao ponto que eu dizer que já não te conheço.
Houve tanto que deveria ter acontecido mas deixou de acontecer, que me leva a crer que o fosso é grande demais para ser superado.
Não estamos sequer em stand by. Há coisas que chegam ao fim, mesmo não havendo uma razão específica.
Durante algum tempo fui dando o benefício da dúvida, acreditando nas tuas desculpas.
A falta de disponibilidade física para estar em todo o lado e sobretudo o tempo que era escasso e passava à velocidade da luz.
Tudo isso era credível, não me dando para desconfiar que se tratava de falta de atracção de personalidades, ou desencanto pelo passado.
Quando penso em ti, tenho um misto de sentimentos confusos que me causam um certo transtorno.
Não sei se alguma vez iremos recuperar desta fase, que se prolonga há tempo demais para ser reparada.
Ao contrário do que seria de esperar, não deixei de gostar de ti mas também não sei o que gosto em ti. Ou muito me engano, ou tudo indica que nos afastámos, havendo da tua parte um intuito que me é estranho e absurdamente desapropriado.