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Digo eu

Digo eu

Eu nem sei...

 

 

 

Acreditas que já não sei o que é bom para mim, ou provavelmente nunca soube? Seria bom eu saber. Assim por inteiro. 

Toda uma vida (ou grande parte dela) fui fazendo a vontade aos outros para não desiludir ninguém. 

Pequenas coisas aqui e ali. 

Cedências umas atrás das outras, deixando de parte a minha vontade ou a falta dela.  

Não tem nada a ver com altruísmo (nalguns casos sim). 

Tem muito mais a ver com a incapacidade de dizer "não" e de abrir os olhos para pensar naquilo que me faria feliz (se é que isso existe como conceito pleno). 

Claro que houve momentos de felicidade. 

Claro que houve momentos de euforia. 

Claro que houve épocas da minha vida em que me senti realizada. 

Mas inteira, como uma obra que não acaba, tenho as minhas dúvidas. 

Não foi por ter medo de olhar para dentro. 

Não foi por achar que seria egoísmo. 

Foi mais por falta de espaço. 

Falta de voz. 

Falta de oportunidade. 

Talvez eu nem saiba explicar quando foi que isso aconteceu, ou talvez eu te possa dizer que foi desde que comecei a ter a noção de ser gente. 

Mesmo quando eu queria tomar as minhas decisões, havia sempre alguém que as tomava por mim. Mesmo quando eu gostaria que me tivessem explicado o porquê das coisas, alguém achava que não havia explicações a dar. 

Então fui crescendo assim... Não contrariando, não expondo, não questionado em voz alta. 

Em vez disso, escolhia guardar tudo até me sufocar.  Não houve sequer lugar físico e emocional para mostrar as minhas revoltas, que até hoje ficaram por demonstrar. 

A tampa raramente me saltou. E quando saltava, era na altura errada. Por razões que nada tinham a ver com a razão legítima, perdendo assim o fio à meada. 

Ninguém me reprimiu. Eu é que me reprimi a mim mesma. Eu é que não soube falar em minha defesa, talvez por cobardia de acartar com as consequências. 

Até hoje, depois de ter percorrido mais de metade do que será a minha vida, as dúvidas e a consciência delas permanecem quase as mesmas.

Peço-te que não faças o que eu sempre fiz. Diz o que tens a dizer. Fala em alto e bom som. Defende-te e mostra-te, para que possas saber o que queres, onde vais e porque o fazes na altura certa.