No silêncio
Ainda não disse tudo. Há muita coisa que nunca disse e vai ficar por dizer.
Manter-me calada é também uma forma de comunicar, para os que sabem entender o silêncio.
São muitos anos de prática.
O meu silêncio não é arrogante.
Ele acontece e por vezes prolonga-se, por não conhecer palavras que expressem exactamente aquilo que sinto.
Estou farta de palavras gastas e envelhecidas.
Farta das que chegam para agredir e separar.
Farta das que não querem dizer nada.
Cordas vocais que gritam dando azo a discussão, deixam-me num canto encolhida e sem argumentos. A minha falta de resposta vem da oportunidade que não me é concebida e do pouco respeito pela minha opinião.
Então nesse momento preciso, o silêncio é a única forma de defesa.
O único trunfo que tenho na mão.
Mas fico atenta ao que oiço.
O corpo imóvel tem os sentidos mais apurados. Entram-me por mim adentro palavras ácidas e implacáveis. Palavras que provocam dor, mágoa e inquietação.
Como tal, nada tenho mais a fazer senão refugiar-me no silêncio, que diz mais do que todas as palavras que ficarão sempre por dizer.
Então em silêncio eu peço para ter força e coragem. Peço para continuar a sorrir, para ser sempre livre de sentir e nunca desistir de mim própria.