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Digo eu

Digo eu

No silêncio

 

 

 

 

Ainda não disse tudo. Há muita coisa que nunca disse e vai ficar por dizer. 

Manter-me calada é também uma forma de comunicar, para os que sabem entender o silêncio. 

São muitos anos de prática. 

O meu silêncio não é arrogante. 

Ele acontece e por vezes prolonga-se, por não conhecer palavras que expressem exactamente aquilo que sinto. 

Estou farta de palavras gastas e envelhecidas.

Farta das que chegam para agredir e separar. 

Farta das que não querem dizer nada. 

Cordas vocais que gritam dando azo a discussão, deixam-me num canto encolhida e sem argumentos. A minha falta de resposta vem da oportunidade que não me é concebida e do pouco respeito pela minha opinião. 

Então nesse momento preciso, o silêncio é a única forma de defesa. 

O único trunfo que tenho na mão. 

Mas fico atenta ao que oiço. 

O corpo imóvel tem os sentidos mais apurados. Entram-me por mim adentro palavras ácidas e implacáveis. Palavras que provocam dor, mágoa e inquietação.  

Como tal, nada tenho mais a fazer  senão refugiar-me no silêncio, que diz mais do que todas as palavras que ficarão sempre por dizer. 

Então em silêncio eu peço para ter força e coragem. Peço para continuar a sorrir, para ser sempre livre de sentir e nunca desistir de mim própria.