Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]

Digo eu

Digo eu

O Yoga e eu não dá

Eu, com este ar aparentemente calmo e desprendido, sempre fui uma histérica exausta. Sempre suspirei 700 vezes por dia, de tal forma que as minhas filhas em pequeninas achavam que estar exausta e suspirar era bom sinal e uma perfeita delícia. 

Entre mulheres havia aquelas conversas habituais sobre os filhos, a casa, as idas e voltas, o pára arranca, os horários e o diabo a sete e lá vinha o assunto do :”É preciso relaxar ou acabamos todas aos gritos no manicómio”, quer houvesse ou não razões para isso. 

Bebíamos café todos os dias depois de levar as crianças à escola, onde ficávamos a dizer bacoradas e a rir,  entre outros assuntos mais sérios. A saúde era um deles e comentava-se como era imprescindível adoptar algumas técnicas de relaxamento, ter uma alimentação saudável, fazer exercício. 

Falou-se então do Yoga e das maravilhas que fazia ao espírito. Eu, que vivia sempre a mil dentro do meu corpo magro que nem um cão, resolvi alinhar numas aulas ali bem perto, só para não ser do contra e até que podia ser bem divertido.  Além do mais, a minha cabeça a mil estava a precisar de alguma calma e o meu corpo de mais saúde e motivação para não me deixar cair.  

Eu, a Joana minha sobrinha e a minha amiga Rita (que Deus tem), partimos as 3 à descoberta do Yoga e das suas maravilhas, sempre depois de beber alguns cafés, fumar cigarros e respirar de alívio por termos algum tempo só para nós. 

Depois das contas feitas e da situação regularizada, apresentávamos-nos nas aulas, frente ao instrutor, o Pedro, a quem sempre tratei por João desde o primeiro dia até ao último. 

Lá vinha ele no seu Fiat 600 cor de laranja, vestido na íntegra de cor de laranja, lembrando-me a irmandade dos Harykrisna que dançavam de cabelo rapado nas ruas de Londres, ao som de murmúrios e campainhas. 

Depois de várias perguntas e alguns risos, em que o João (Pedro) nos tentava pôr na ordem de forma calma, lá íamos nós tentar relaxar em posições de contorcionistas, em que o meu corpo de aproximadamente 40 quilos ficava ainda mais dorido. Na verdade parecia que me estavam a torturar, enfiando-me  um punhal nos joelhos, outro na goela e o último na espinha. De olhos abertos e fixando um ponto imaginário, tínhamos que nos equilibrar, sem nunca vacilar muito menos cair,  elevando uma das pernas e cruzando sobre a outra, formando o numero 4. Uma posição básica do Yoga fazia-nos suar em bica. 

Depois o João (Pedro) dizia-nos de forma assustadoramente impassível para nos sentarmos no chão, de pernas cruzadas com os pés em cima das coxas, para fecharmos os olhos e respirarmos pela barriga. Era suposto fazer o quê? Usar toda a capacidade pulmonar, expirando o ar pela boca e sentirmo-nos nas nuvens. 

A dada altura, em que eu já estava praticamente desmaiada com aquela tortura, o João (Pedro) pergunta: “Maria, como é que se está a sentir”? “PE S S I M A M E N T E”!!!! Respondi eu aflita. Bastou-me  largar essa bomba para termos todas o maior ataque de riso daqueles últimos dias. A nossa assiduidade durou cerca de 3 meses. Depois disso, dissemos bye bye ao Yoga, ao João (que sempre se chamou Pedro) e ao contorcionismo. 

Ainda tentei dar o benefício da dúvida, frequentando outras aulas durante mais de um ano que me deixaram ainda mais nervosa e desiludida.   

De facto aquilo não era para mim. Até hoje fico a pensar como é possível dizer-se que o Yoga é para relaxar, usando aquelas posições estranhíssimas, tais como fazer o pino enquanto todo o peso do corpo cai sobre a cabeça, concentrando-nos numa respiração que nos faz perder os sentidos. 

5 comentários

Comentar post