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Digo eu

Digo eu

onde nos levam as zangas

 

 

 

Se vires bem, não existe nenhuma razão concreta para nos zangarmos. 

A divergência de opiniões não justifica nada.

Provavelmente para ti continuo a ser uma miúda, ainda por cima pespineta, pronta para responder a provocações. Ninguém me ensinou a ser assim e nem o considero um defeito. Está-me no sangue e neste meu feitio, que até não é mau de todo. 

O que tu talvez não te dês conta é que eu entretanto cresci e já sou uma mulher adulta com opiniões formadas. 

Às vezes sou orgulhosa, teimosa e até irritante. Às vezes as minhas gargalhadas deixam-te com os nervos em franja, porque não percebes onde está a piada. 

Gosto de rir em alto e bom som e de me expressar quando acho que devo. Nem sempre fico calada quando há alguém em cima de mim a dar-me nas orelhas e a desrespeitar a minha opinião, só porque sim. 

Já lá vai o tempo em que eu não dizia nada e ficava a remoer os assuntos dentro de mim, sem saber como sair dessa encruzilhada. Ficava magoada e triste, perdendo um tempo precioso com coisas que não mereciam tanta atenção da minha parte. 

Ficava até revoltada com dores de cabeça, de estômago e com vontade de vomitar. Essa atitude não me trouxe grandes vantagens. Talvez me tenham dado rugas precoces, bastantes desfavoráveis. 

À medida que fui crescendo, fui aprendendo a não dar demasiada importância a essas desilusões e ao mesmo tempo com o sentimento que era no diálogo que as pessoas se podiam entender. (Nem sempre é verdade, o que também aprendi depois de crescer).

Então parti voluntariamente para o diálogo, na disposição de ouvir e entender, pensando que os outros deveriam fazer o mesmo. 

Parece-me agora que há quem não cresça nunca. Parece que há quem sinta prazer em discutir, sem nunca chegar ao consenso. Não digo que seja o teu caso. Ou será?

Sei que a vida nem sempre tem sido generosa contigo. Que já passaste por grandes provações que te provocaram uma dor enorme, dificilmente ultrapassável.

Isso não quer dizer que tenhas que ser destrutivo. Justifica a tua tristeza mas não a tua agressividade.

Eu preciso de falar e sobretudo de ser respeitada. 

Às vezes prefiro o silêncio como forma de me expressar. Quando sei que não chego a lado nenhum através das palavras. Quando sou agredida no diálogo. Quando não quero perder tempo com quem não me entende, porque não me sabe ouvir. 

As zangas não nos levam a lado nenhum. Deixam-nos apenas fora de nós, críticos e injustos. Deixam-nos amargos e maldizentes. E no final fica um vazio que não compensa. 

Pensa no assunto e fala comigo quando te apetecer. Não demores muito. Não te deixes ficar na tua, mantendo uma postura amargurada. O tempo passa depressa e nem sempre cura tudo. Pode muito bem em vez disso, destruir uma amizade de longa data.