Pessoas e gente que passa
As ruas estão cheias de gente que se cruza mas que evita tocar-se. Não há tempo de conhecer olhares e ninguém sabe da vida daqueles que passam, nem ninguém está interessado. Convém evitar os que estendem a mão pedindo esmola, os que tocam baladas em cima da ponte, os que fazem de estátua. Ninguém tem tempo de parar, muito menos de sentir alguma pena dos que não têm sequer uma refeição decente por dia nem um lugar para descansar o corpo durante a noite. Ninguém sabe onde dormem apesar de se ver que dormem onde houver lugar, sobre uns caixotes de cartão tão desconfortáveis e gelados.
Eles dormem na rua e a gente passa mesmo ao lado, sem nenhum cuidado, falando e andando como se a vida deles não importasse, quando devem ter tanto para contar. Como foram ali parar? Que voltas deram essas vidas que acabam na rua? Ninguém sabe e poucos se importam.
E a gente move-se dum lado para o outro, corre para apanhar o último comboio para chegar a casa, estoirada. Todos os dias o mesmo procedimento, gestos automáticos e monótonos, vidas vazias com o propósito de ganhar um salário. A grande maioria vive assim, sem ter tempo de viver, não gramando nem um pouco daquilo que faz.
E de repente há excepções! Pessoas afortunadas que se empenham no trabalho, que se entregam com paixão à sua actividade. Pessoas que regressam a casa, felizes com o que produzem e o que conquistam, que têm tempo além do tempo do horário de trabalho. Pessoas que conseguem olhar e ver o que se passa, que se preocupam, que se envolvem. Pessoas que têm a sorte de se sentir amadas e que amam de volta porque gostam daquilo que fazem.