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Digo eu

Digo eu

Reinventar-se

 

 

 

Já tinha passado por várias crises, existenciais, inclusive. 

Estava agora numa fase da vida em que tinha experimentado quase tudo. 

Deu-se conta de quantos capítulos tinha encerrado... 

Uns por necessidade, 

outros por conveniência, 

outros por satisfação. 

Tinha aprendido muito com todos eles e sabia que a vida era feita de ciclos. Quando uns se fechavam, abriam-se outros para que fosse possível continuar a aprender.  

A página em branco diante de si deixava-o hesitante e confuso. Não sabia como a preencher. 

Voltar atrás para reescrever a sua história, estava fora de questão. 

Precisava urgentemente de partir para outra, sem ter que dar explicações. Queria reinventar-se ou criar alguma coisa que nada tivesse a ver com toda a sua existência, mas que incluísse ao mesmo tempo todos os que eram importantes e que amava. 

Precisava muito das suas memórias, principalmente das boas. Lá estavam factos que não queria perder nem por nada, assim como experiências preciosas que lhe tinham mostrado   o que de mais importante havia na vida. 

A Família e os amigos de longa data não podia deixar para trás. Eram referências primordiais.

Partir para outra sem os levar atrás, era como se morresse e não deixasse nada. 

No meio da caminhada parou para pensar. Chorou sozinho. Riu-se sozinho. Sozinho estava ele sem saber como se reinventar. 

Já tinha caído e já se tinha levantado. Já tinha aprendido e já tinha errado. Já tinha sido activista, idealista, realista mas nunca se tinha acomodado. 

Faltava-lhe viver uma coisa diferente. 

Talvez outro amor. 

Talvez a serenidade. 

Talvez a esperança. 

Talvez a benevolência. 

Talvez outra atitude! Estava ai a chave do mistério. 

Para se reinventar, tinha que ter outra atitude perante o que lhe ia acontecendo na vida. 

Aceitação era apenas uma delas. 

Pensou nos amigos que tinham partido, sem terem tido tempo de aceitar o que a vida lhes tinha trazido. 

Então era por ai o caminho a seguir. Mudar de atitude. Aceitar a vida. Recomeçar de novo com outro olhar. Precisava de amar e de ser amado, sem dor nem penitência. 

Tinha que arrancar a raiz de todas as desilusões e amarguras - A culpa do passado, mesmo que a terra toda ela tremesse debaixo dos seus pés. 

Voltou para casa mais animado, admirando a paisagem que lhe devolvia a fé.