Ser louca ou ser eu
Quem me dera poder ser louca por um dia, ou quem sabe ser eu mesma, sem prejudicar nada nem ninguém.
Quem me dera fazer brilhar a minha imaginação e pô-la em prática, percorrer alguns caminhos que me eram destinados, mas que nunca ousei.
Quem me dera ter a bravura de acreditar em mim própria, atirando-me duma ponte ou dum penhasco, sabendo que o dom de voar me salvaria da ausência, por onde sempre caminhei.
Quem me dera não ser julgada pela vontade sistemática de dançar até de madrugada, de rir à gargalhada com cenas que me vêm à cabeça e que jamais esquecerei.
Quem me dera entrar por esse mar adentro e nadar até ao horizonte, onde o sol se põe e entra a noite, sem temer a escuridão.
Quem me dera ser tocada por uma estrela ou montar-me num dragão, viajar pelo mundo de cabelos ao vento, gritando até me faltar a respiração.
Quem me dera ser louca ou ser eu mesma, acreditar que poderia viver noutro planeta, deixando-me cativar por alguém tão delirante quanto eu.
Quem me dera poder ser louca sem nunca me cansar, não ligando à consciência que tantas vezes me escondeu.
Quem me dera ser louca e tão lúcida, experimentar sensações libertadoras, sem dor ou sem culpa da arte que me envolveu. Sentiria apenas a verdadeira independência de todo o meu ser e de toda a minha alma, prolongando esse dia até o apogeu.