Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Digo eu

Digo eu

Bendita coragem a tua

 

 

 

 

Gostava de ser como tu em plena força da vida, com imensos planos e uma lista considerável de projectos para levar a cabo. Acontece que no meu tempo, que não foi assim há tanto tempo atrás, os planos não iam muito além de acabar os estudos, arranjar emprego, um apartamento e casar. Tudo corria nessa direcção como se não houvesse nada mais importante na vida do que constituir família, cuidar dos filhos e do marido, mantendo a casa a funcionar. As mulheres já trabalhavam claro e algumas ocupavam lugares importantes, se bem que os salários ainda não eram equiparáveis aos de qualquer homem que tivesse a mesma função. 

Não era fácil ser mulher e continua a não ser. Ainda existem imensos preconceitos idiotas em relação à mulher e às suas capacidades. Alguns homens ainda se acham seres superiores só porque, geralmente, a sua habilidade física lhes permite ter mais força. De resto, e a gente sabe, as aptidões de uma mulher são tão ou mais válidas do que as do homem, que fica lixado quando confrontado com essa realidade que não é capaz de engolir. Como em tudo, há excepções à regra e até se encontram gajos bem civilizados que já não se sentem ameaçados pelas conquistas da mulher e conseguem lidar na boa com esse bendito progresso. 

13653059_10153818184476588_5785331201259709701_o.j

 

Mas voltando atrás, dizia eu que gostava de ser como tu, no que toca a essa liberdade que consegues aproveitar. Para mim, nunca me passaria pela cabeça pegar numa mala e andar sozinha pelo mundo, como uma necessidade que é imprescindível satisfazer tal não é essa gigantesca sede de tudo saber, de tudo querer experimentar de forma palpável. Não basta aceder ao computador. É preciso pisar outras terras, conhecer outras culturas e olhar a beleza em tempo real. É fundamental conhecer gente diferente, saber o que pensem e como vivem, aproveitando no caminho para fazer mais amizades, que agora são também mais fáceis de conservar, se se quiser. Dantes escreviam-se cartas que mantinham a chama acesa durante um breve período de tempo. Depois a malta seguia o seu caminho e nunca mais se sabia daquela gente que tínhamos conhecido em certa ocasião e totalmente por acaso. Só os mais persistentes conseguiam essa proeza de preservar o convívio apesar da longiquidade. Nos dias que correm, o acaso e os encontros são levados mais a sério, até porque estamos todos à distância dum click, pertencendo ou não à mesma classe social, que também já não pesa como antigamente, graças a Deus. Além do mais, correr o mundo tornou-se tão natural que é sempre possível reencontrar os amigos das viagens. 

A idade também conta, ou pensas que não? Enquanto tu não te importas de dormir num sitio qualquer e de comer a horas desencontradas,  eu preciso de descansar o corpo numa cama com edredon e almofada e fazer refeições a horas com intervalos minimamente regulares. 

Mas não é por isso que não viajo como tu de mochila às costas e em voos baratos, correndo para terminais onde o diabo perdeu as botas dentro do mesmo aeroporto, para conseguir chegar a tempo doutro voo de ligação ao destino final. Mas invejo essa determinação e a facilidade com que se pega nuns trapos e se vai em busca de aventura, alimentando a paixão de conhecer o mundo. 

 

10341597_1659105637686466_419685387749402893_n.jpg

 

As minhas pernas estão cansadas e as dores nas costas são um pesadelo. Se correr, falta-me o ar e fico desidratada, sem forças para lá chegar. Além do mais, há idades para tudo. Tu tens a oportunidade da mochila e do sem compromisso, eu estou na fase da viagem organizada quando vários factores juntos o permitirem, além das raízes que me prendem à minha terra. Lá no fundo, talvez sejam meras desculpas que te estou a tentar impingir, quando no fundo sei que não tenho a mesma coragem que tu.