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Digo eu

Digo eu

Um amigo de sempre

 

Sempre te vi como o namoradinho da minha melhor amiga, logo como um grande amigo meu. 

Apesar dos cochichos e de tudo o que viam em mim (no fundo eu era aquela miúda que chamava a atenção, mais pela graça do que qualquer outra coisa) não me passava pela cabeça senão olhar para ti como quem olha com ternura para um irmão. 

Enquanto alguns se irritavam com esse teu ar pachorrento, eu deixava-me cativar pelo teu sorriso e aquele ar de malandro de quem, lá no fundo, não faz mal a uma mosca.  

Achava graça à tua postura, ao teu discurso de poucas palavras e aos de muitas, quando bebias uns copinhos a mais. 

Tanto parecias um senhor no meio do grupo, como um puto que não sabia bem o que queria nem o que era melhor para ele. 

Uma das coisas que mais gozo me dava de observar em ti, era o fumo que travavas do teu cigarro ao canto da boca e o que deixavas sair, fazendo argolas de fumo que desapareciam no ar. E eu pensava... Aqui está um gajo que sabe fumar e que aprecia cada passa que dá, tanto ou mais do que eu. Éramos parvos todos os dias, por fumar e nos acharmos crescidos, convencidos donos da razão, mesmo sabendo que não a tínhamos. 

Parecias um senhor doutor de qualquer coisa, não imaginando eu naquela altura do que poderia vir a ser. Mas lá que o teu estilo era engraçado, lá isso era e eu gostava, tanto que me fazias rir a bandeiras despregadas.  

Gostava sobretudo que fosses o melhor amigo do meu irmão e o namoradinho da minha melhor amiga, porque isso me garantia que nunca iria haver confusão. 

Eras daqueles em quem eu podia confiar, fosse a que horas fosse ou em qualquer dia da semana, do mês ou do ano. Mesmo quando não nos víamos, sabia que a nossa amizade era daquelas para toda a vida, por mais voltas que a vida desse, estando nós perto ou cada um em seu lugar. 

Uma amizade como a nossa nunca acaba. E sabes porquê? Porque eras o melhor amigo do meu irmão, a quem sempre deste amparo. Porque eras aquela figura amorosa e doce, o namoradinho da minha melhor amiga, de quem tanto continuo a gostar. Porque sempre foste um senhor, com tantas voltas que a vida deu, com todos os dissabores e bons momentos que já vivemos, tu e eu. 

Apesar de tantos anos terem passado antes de nos reencontrarmos, continuas a ser aquele amigo de toda a vida e para todo o sempre. É por isso que conversamos sobre tudo com a maior descontracção, dividindo as alegrias e as tristezas da vida, próprias da nossa geração. 

Os nossos cabelos brancos são sinal de experiência e de quem já viveu algumas cenas. Ainda assim, quando falamos, podemos voltar a ser putos, relembrando bons e velhos tempos,  rindo-nos com o maior gosto das nossas eternas babozeiras.